sexta-feira, 6 de julho de 2007

Naufrágio urbano

Um livro lido na faculdade dizia que, para se conhecer de fato uma cidade, deve-se perder nela. Era uma analogia com a filosofia, não sei bem o propósito, mas isso não vem ao caso. Ocorre que, recentemente, essa passagem me veio à cabeça e, na hora, quis mandar seu autor à merda. Novamente, estava sem rumo numa cidade estranha e, como em todas as vezes que aconteceu, isso em nada me ajudou a conhecê-la.

Ia ao encontro do Fábio, amigo em cuja casa estou hospedado em Lisboa. O trajeto era simples, pouco mais complexo que uma reta, porém, me conhecendo como apenas quase 30 anos de convívio com alguém permitem conhecer, sabia que erraria. Ao invés de combinar um almoço, deveríamos ter marcado um um happy hour ou ainda um jantar - se bem que dois homens jantando, hum, sei não. Se me perco até em cidades onde posso pedir informações, que dizer de uma em que nem minha língua falam? (Como você sabe, o que se fala no Brasil não é português.) Só nos encontramos depois que ele já tinha almoçado, claro. E eu, mesmo com duas pizzas de baixo do braço, tive de procurar um restaurante para comer só.

A falta de senso de direção, aliada ao pouco dinheiro que costumo carregar - a quem chame isso de pão-durice -, já rendeu boas histórias. Em Praga, por exemplo, saindo sozinho de uma danceteria, me recusei a pegar um táxi e fui a errar (em amplo senido) pela cidade. Mas lá, sim, falam minha língua. Parei para pedir informações no único estabelecimento aberto logo na manhãzinha de domingo, e o dono foi muito simpático. Jornaleiro nada. Atrás da máquina de chope, o taberneiro foi logo me oferecendo um -- "café da manhã", segundo ele. Tomei mais uns quatro, todos por conta da casa, honrada por receber um brasileiro em tempos de Copa. Em umas das mesas, um italiano e um mexicano, num idioma primo do esperanto, debatiam sobre o imperialismo americano e envolveram a mim, irmão latino oprimido, na conversa. Papo chato da porra. Tanto, que me fez abrir mão da infindável fonte de cerveja gratuita existente naquele boteco e, novamente, tentar voltar para o hotel. Tarefa que a generosidade do dono do boteco tornara bem mais difícil.

Toda vez que me perco, confesso, chego a imaginar que nunca mais vou me encontrar. Imagino que, cansado de procurar meu rumo, sentarei e ficarei entregue à boa vontade de quem me dê um trocados, até que espalhem cartazes de "desaparecido" com uma foto minha, alguém me reconheça e me leve para casa. Ei, até que não é má idéia.

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