quinta-feira, 30 de outubro de 2008

21 gramas

Na farmácia, foi direto à balança. Notou: estava 21 gramas mais leve. Tendo visto o filme, concluiu ter morrido. Do balcão, o funcionário alertou: “Tá desregulada”. Foi a ressurreição mais rápida da história.

O amor nos tempos do cólera

Não sabia que constatação tinha vindo primeiro: a do fim do amor ou a de que ela fazia cocô.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Boooooring

Num mundo tão politicamente correto e chato, não vou me espantar se as pessoas começarem a se comunicar por meio de bocejos.
Cobrindo a boca com a mão, evidentemente.

sábado, 4 de outubro de 2008

A bordo do Aero-trem


Com espaço na propaganda eleitoral limitado e, na maioria dos casos, com verba idem, vários candidatos nanicos abrem mão da credibilidade, que supostamente levaria os eleitores a escolhê-los, e adotam a bizarrice para se fazer lembrar. De tão comum, a estratégia tem efeito inverso: dentre tantos cornos, tantos travestis e palhaços (os de verdade, mesmo) como distinguir um do outro?

Mas houve um tempo em que a seriedade dava o tom das campanhas políticas, embora nunca tenha sido esse o tom da política propriamente dita. Postulantes de pouca expressão usavam seus milésimos de segundo na televisão meramente para, em locução de turfe, comunicar nome e número. Torciam para não serem esquecidos, o que acontecia de forma mais rápida que sua aparição.

No primeiro pleito presidencial pós regime militar – quando elegemos Collor e mostramos como merecíamos recuperar o voto –, surgiu uma geração que, se não mudaria a política, pelo menos tornaria o horário eleitoral menos sacal. Grande serviço à população, que, sem TV por assinatura, tinha aquela como única opção – “desligar a televisão e ler um livro” estava fora de cogitação.

Sem votar por tantos anos, o eleitor não abriria mão de fazê-lo daquela vez. Com tanto voto dando sopa, surgiu nos políticos o sentimento de “e por que não?”. E não só neles, já que, entre os mais de 20 candidatos, até Silvio Santos estava no páreo. Com tantos concorrentes, os de partidos inexpressivos, que normalmente já não teriam muito espaço, tinham menos ainda. Assim, precisavam otimizar (como diria o pessoal da firma) seu tempo.

Nenhum o fez tão bem quanto o até então desconhecido (“meu nome é”) Enéas. Careca, barbudo, óculos fundo-de-garrafa e cara de louco, a promessa de desenvolver a bomba atômica nacional e, principalmente, o bordão gritado o deixaram à frente de muitos políticos consagrados. E, até hoje, mesmo após sua morte, ninguém esquece o nome dele. Talvez porque seus berros agudos e roucos ainda ecoem na cabeça da moçada.

Em meio aos atuais engraçadinhos, resiste um original, surgido mais ou menos na mesma época que o candidato do PRONA. Antes de consultar o Google, apostava que Levy Fidélix, atual aspirante à prefeitura de São Paulo, tinha concorrido à presidência em 1989.Talvez por ser folclórico como os concorrentes de então, talvez por já ter se candidatado tantas vezes a tantos cargos. Fiel às suas origens, nunca abriu mão do Aero-trem, proclamada panacéia para o trânsito de São Paulo. Continua a defendê-lo mesmo depois da eficácia duvidosa do Fura-fila de Celso Pitta, cópia descarada do seu projeto. É um incansável.

Amanhã é dia de eleição, mas não para esse visionário. Duvido que mesmo os participantes da carreata de quatro carros que presenciei sexta votem nele. Como de costume, o seu será dos poucos votos que ele receberá – isso se até mesmo ele não se resolver pelo voto útil. Então, me pergunto: por que ele continua a se candidatar? Talvez, a resposta venha com a inauguração do Aero-trem.