quarta-feira, 25 de junho de 2008

Parklife

Procurava vaga no estacionamento já havia muito tempo. Como qualquer estacionamento onde se procura vaga, aquele parecia não ter nenhuma. Não agüentava mais procurar, quando o rádio começou a tocar “Transmission”, do Joy Division. Música boa da porra. Comecei a cantar junto. “Dance, dance, dance to the radio...Dance, dance, dance to the radio...” Foi aí que apareceu aquela vaga e cortou o meu barato.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Minutos de sabedoria

Sentado em posição de lótus sob a frondosa árvore, o sábio oriental falou. De sua boca saíram ensinamentos valiosos. Dissertou sobre karma, sobre o caminho, sobre a iluminação. Afortunados os que puderam ouvi-lo.

Pena que, com aquele maldito perdigoto no seu lábio inferior, ninguém conseguiu prestar atenção no que ele disse.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Parada cardíaca

Situação clássica no trânsito. Ao mudar de faixa, você descobre que a nova está andando menos do que aquela de onde saiu. No íntimo, você sabia que seria assim, e mudou apenas para poder dizer a si mesmo “bom, eu tentei”.

O que você não esperava é que, ao mudar de faixa, fosse parar atrás de um carro com luz de freio em formato de coração. Que, para o seu azar, fica constantemente pressionada.

Então, lhe ocorre: “Não existe situação ruim que não possa ser piorada.”

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Olhe para os dois lados

A setenta por hora, o motorista notou uma pessoa atravessando. O pedestre pisou no asfalto com a maior calma, e, com a maior calma, caminhou em direção ao outro lado, sem se abalar com o carro que vinha ao seu encontro.

O motorista também não desacelerou. Em vez disso, pôs-se a solucionar um daqueles problemas de física.

“O carro vai a setenta quilômetros por hora, o pedestre atravessa a uma velocidade de dois quilômetros. Se a rua tem vinte metros de largura e o pedestre está a cem metros do carro, quanto tempo leva até o carro atingir o pedestre?”

O motorista jamais saberia que o rapaz atropelado era filho da Dona Zureide, sua professora de física do colegial.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O vermelho ou o verde?

- Que tal?
- Se você ficar mais bonita que isso, não deixo você sair de casa.
- Bobo...

Na próxima vez em que se preparavam para sair, ela caprichou ainda mais. E então teve início um caso de cárcere privado, cujo desfecho se daria dezoito anos depois, quando a policia atenderia a uma denúncia anônima.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Crônico

Os arranhões nos óculos escuros o impediam de ver as coisas com perfeição. Como filtros ao contrário, as lentes danificadas traziam à tona, junto com as suas, as rachaduras do ser humano, que antes lhe passavam despercebidas.

A consciência do imperfeito veio quando os seus óculos caíram e se lascaram. Aí, passou a ver o mundo feio como ele é. Aí, perdeu a fé na sociedade.

Um dia, num assalto, os óculos foram levados.

“Crack nada. Deve ter roubado pra comer, coitado.”

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Hold on

Tentou falar com Deus, pedir para que Ele a fizesse amá-lo.

Ocupado, Deus o deixou na espera. Deus é realmente muito ocupado, e ele passou anos ouvindo “Pour Elise”.

Quando Deus finalmente o atendeu, ele já não conseguia se lembrar o que ia pedir. Disse que tinha discado o número errado e desligou.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Cai, cai

Ao passar em frente ao motel decorado com motivos juninos, teve o estalo: ali renasceria o amor deles.

Os balões na fachada eram um sinal. Se iniciavam tantos incêndios, não teriam dificuldade em reacender o fogo da paixão entre eles. Bastava uma mísera fagulha.

Chamou a esposa e foram ao motel. Antes de entrarem, ao ver os balões, ela não conseguiu conter as gargalhadas.

- Como é que alguém decora um motel com balões, uma coisa que passa pouco tempo no céu e logo cai? Não é brochante?
- E o mais absurdo é que tem gente que não acha isso...

Os balões eram mesmo um sinal, mas ele não soube interpretar. Significavam que, como eles, o seu amor estava fadado às cinzas.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Greetings to the new brunette

Abriu os olhos, mas só o quanto a dor de cabeça permitiu. Recobrando os sentidos, além da cabeça, sentiu outra parte do corpo doer. Deu graças a Deus por ser o braço.

Sem entender o bíceps dolorido, abriu os olhos mais um pouco e se deparou com uma tatuagem: o nome da amada dentro de um coração toscamente desenhado.

Lembrou-se, então. Na noite anterior, entre pints, decidiu celebrar seu amor por ela com uma nova tatuagem.

A idéia não seria tão ruim se ele não estivesse apaixonado por uma Gumercinda.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Paixão pra mais de métrica

Apaixonada pelos olhos verdes de Wellington, Joselma escreveu-lhe um poema.

“Galego dos olhos verdes,
Verdinhos da cor de cana,
Um beijo na sua boca
Me sustenta uma semana”

Tocado pelos versos de Joselma, Wellington pediu-lhe em casamento.

Depois, Wellington descobriria: Joselma emprestou seu lirismo de um pára-choque de caminhão. Mas, como o verde de seus olhos também era cortesia da Bausch & Lomb, resolveu manter a data do casório.

Até o amor verdadeiro mente de vez em quando.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Nem de espírito


- O hotel é ótimo, mas tenho uma crítica. Vocês deviam colocar sensores de presença nos corredores. Uma escuridão danada, e não conseguia achar o interruptor...
- Senhor, todos os nossos corredores têm sensores de presença.

O que dizer quando sua insignificância acaba de ser comprovada cientificamente?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Sinapses

Tinha lido em algum lugar que um copo de água pela manhã fazia bem ao cérebro. Por isso, não entendia a dificuldade que tinha para raciocinar, mesmo as coisas mais elementares. Todo dia, tomava um copo de água ao acordar. Água-ardente, mas água.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Exupéry

“Palavras são a fonte do desentendimento.”
Ponto para a equipe do maldito Pequeno Príncipe.