quinta-feira, 12 de abril de 2018

Eu acho



No dia 12 de abril de 2013, eram cerca de 6h da manhã quando cheguei ao hospital de Barretos. A Rita já na sala de cirurgia. Encontrei o Rogério num corredor, diante de quadros de cortiça nos quais eram expostas fotos de bebês nascidos ali.
     – Olha isso – o Rogério me mostrava, um tanto assustado. Ao ver o aspecto de muitos dos nenéns e sendo, como meu irmão, uma pessoa malvada que não vê beleza em todas as crianças, logo entendi sua preocupação. 
     – Será que a Laurinha vai ser bonitinha? –, ele me perguntava.
     – Claro que vai –, eu respondia, sem muita convicção.
     Obviamente, desejávamos que ela nascesse bem e saudável, mas essa preocupação boba era a que nos afligia nos instantes que precediam o parto. Será que os registros dos outros atestavam o azar comum à maioria dos nascidos naquele hospital? Será que, mesmo com pais bonitos, a Laura ia...
     Um tempo depois, quando enfim vi a menina, o alívio: minha sobrinha era muito, muito bonitinha. Nada da cara de joelho que se diz comum a todos os recém-nascidos, que os parentes afirmam, por amor e pela convenção, ser linda. Tinha traços delicados, mas já definidos, todos bonitos de verdade. Ou podia ser que eu, como os parentes de recém-nascidos em geral, tivesse o julgamento turvado pelo afeto. Na dúvida, ainda sem abdicar por completo da malvadeza comum, eu e meu irmão nos perguntávamos: 
     – É linda, né?
     – Claro que é.
     Para a gente, ela era linda. Passados 5 anos, continua sendo. Não só linda. Simpática, divertida, amorosa, inteligente. E digo isso sem parcialidade: se minha sobrinha fosse o oposto, eu admitiria. Dificilmente escreveria textões afirmando e me orgulhando disso, mas, no íntimo, admitiria. Sorte nossa, e de quem convive com a Laura, que não é. Quer dizer, eu acho.