quinta-feira, 26 de março de 2009

Alô, criançada

Saindo da academia, tentei atravessar a rua, apesar do sinal fechado. Gentilmente, uma motorista parou. Depois, baixou o vidro e disse: “Malhadinho eu deixo passar.”

Olhei minha barriga e cheguei à conclusão: o “malhadinho” devia ser uma referência à corrida de cavalos do Papai Papudo, que eu não consegui entender.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Thom Yorke, camisa 10


Você pode até ir ao estádio sozinho, mas só estará sozinho até o seu time fazer um gol. Esse momento promove os estranhos ao seu redor a amigos íntimos, com direito a abraços fraternais que muitos irmãos não se dão.

A platéia do Radiohead ontem era, em grande parte, formada por pessoas que só se aproximam de um estádio se nele for realizado algum show. Nunca viram um jogo sozinhos, e, ainda assim, sabem exatamente do que estou falando. Podem não saber que sabem, mas sabem.

Ainda no começo do concerto, me despedi da turma com quem estava e, sozinho, me lancei na improvável missão de encontrar duas amigas do outro lado do enlameado gramado da Chácara do Jóquei. Cerca de 500 metros, multiplicados pelo número de obstáculos (pessoas) que tive que transpor para atravessá-los. Um show tão aguardado, de uma das minhas bandas preferidas, e eu lá, longe dos amigos, dos que me separei e das que buscava. Sozinho. Foi então que o Radiohead fez um gol.

“Karma Police” me transportou a 1997, quando eu ainda estava na faculdade e as pessoas ainda compravam discos. Pelas vozes em uníssono, eu não era o único dali que tinha comprado “OK Computer”. Estranhas e estranhos (em alguns casos, bem estranhos) compartilharam comigo a emoção de ouvir pela primeira vez ao vivo melodias que o CD player e, agora, o iPod não se cansam de executar. Uma espécie de comemoração, que, como a do gol, também me fez ficar rouco.

Se houvesse entre os 30 mil presentes alguém que não fosse Radiohead Esporte Clube, o futebol vistoso apresentado na goleada – “Karma Police” foi só um gol de muitos – rapidamente o converteria. E, se soubesse que é assim que se sente quando seu time faz um gol, certamente esse pessoal começaria a ir a estádios com mais freqüência.

sexta-feira, 20 de março de 2009

7x7

Seus dias eram uma sucessão de desesperadas tentativas de não ser patético. A maioria, tentativas frustradas.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sitcom

- Olha essas maçãs, todas amassadas! E essa alface? Que coisa horrorosa! Não sei por que pedi para você fazer a feira...
- É, devia saber que alguém que casou com você não sabe escolher.

A sonoplastia deve ter falhado, porque não vieram risos em seguida.

segunda-feira, 2 de março de 2009

God only knows

Casal jovem, subempregado – ele constrói piscinas e ela é faxineira –, mora com as duas filhas pequenas num trailer estacionado no quintal da mãe dela. São pobres, muito pobres, mas felizes. Eis que, um não tão belo dia, suspeitando estar novamente grávida, ela vai fazer exames. O resultado não poderia ser mais negativo: um tumor inoperável lhe deixa apenas dois meses de vida restantes. Ela não se desespera. Abnegada, faz uma lista de providências para que sua família tenha uma boa vida sem ela – arranjar uma nova esposa para o marido, por exemplo. Abnegada mas nem tanto, resolve também ter experiências que a precocidade roubou dela, como beber e fumar irresponsavelmente e, sim, se apaixonar por outro homem.

Ao contrário do que parece, “Minha vida sem mim” (título que resume bem o filme) não é um dramalhão brega. Produção independente, o filme é recheado de detalhes cool, como o fato da protagonista ter conhecido o marido no último show do Nirvana, cantar para ele “God Only Knows”, a cabeleireira fanática por Milli Vanilli e, olha lá, a Debbie Harry (Blondie) no papel da mãe da coitadinha. Mas, mesmo não sendo tão dramalhão assim, é um drama. É triste paca.

Agora, as perguntas: por que esse filme estava passando no Telecine Light, um canal supostamente dedicado a filmes água com açúcar? Por que na manhã de um domingo ensolarado? E por que eu, que já tinha assistido, não mudei de canal?

Bandeira 2

O passageiro bêbado olhou o taxímetro e resmungou: 25,00 era caro demais.

O taxista disse que, considerando que o passageiro bêbado não arriscara a vida dirigindo, era uma pechincha.

O passageiro bêbado pensou que o taxista estava por fora do valor da sua vida.