terça-feira, 7 de junho de 2016

X-Misoginia

Talvez por saber, pelo teor dos meus posts e likes no Facebook, da minha simpatia pelo movimento feminista e da minha nerdice, uma amiga me marcou num post e perguntou minha opinião sobre a polêmica em torno do pôster do último filme dos X-Men. Sabe do que estou falando, né? Me refiro ao cartaz em que o vilão Apocalipse aparece estrangulando a heroína (de ocasião) Mística. A imagem deixou feministas de cabelo em pé. Segundo elas (e eles, por que não?), a imagem é misógina.

Sob o título “Só os fortes sobreviverão”, a peça daria a entender, para quem visse a peça fora de contexto, que se trata da predominância do homem sobre a mulher, sexo “frágil”, que não sobreviveria.  A Adriana disse que, como viu um like meu em outro post sobre o tema – um que dizia que, na verdade, mulheres sempre apanharam (e bateram) nos quadrinhos, e tudo bem – queria saber o que eu tinha a acrescentar na discussão.

Leio quadrinhos desde os anos 1980. Naquela época, o movimento feminista talvez não fosse tão ativo quanto é hoje ou quanto já havia sido, mas já tinha deixado suas marcas nessa e em todas as mídias. As mulheres representadas nos gibis eram, em sua maioria, fortes, poderosas, independentes, líderes. Mulher-Maravilha, Mulher-Hulk, Bat-Girl, Mulher-Aranha... Isso sem contar uma personagem dos próprios X-Men: Jean Grey, como Fênix, se tornou  simplesmente o ser mais poderoso do Universo. Uma mulher.

Todos essas personagens se envolveram em conflitos violentos, em que o destino da humanidade dependia delas. Comprometidas com o futuro da espécie, essas heroínas não hesitavam em bater em quem fosse. E, eventualmente, apanhar. Normal. Parte da rotina de quem coloca a segurança do mundo (ou do universo) na frente da sua própria. Por aí, já deu para entender que não vejo nada de errado numa figura feminina levando a pior (momentaneamente, é sempre bom lembrar) no mundo dos quadrinhos. Os revezes, afinal, são o que dá graça a qualquer narrativa ficcional.

Sobre o pôster em si, o que disseram é que, comparado ao de outras obras do gênero, é o único que mostra uma mulher se dando mal. Nos demais, são sempre antagonistas masculinos em pé de igualdade. Daí a suspeita de misoginia. Será? Acho mais uma questão de incompetência. Quem escolheu aquela imagem talvez o tenha feito não por ela ser a mais emblemática, a mais tensa, a que vendesse melhor o filme. Talvez a escolha tenha se baseado unicamente num critério de layout: sendo horizontal, a imagem se encaixaria perfeitamente em out-doors desse formato. E olha que a imagem nem é grande coisa, do ponto de vista estético.


Duvido que o chefão do marketing do estúdio, responsável pela escolha, imaginasse ofender tanta gente. Mas, hoje, não dá para fazer nada em comunicação, nada mesmo, sem levar em conta um milhão de variáveis, inclusive esta. Ou, melhor, principalmente esta. O politicamente correto pode ser chato, mas é necessário.