sábado, 28 de fevereiro de 2009

Chiaroscuro

Sensação parecida com a que tinha quando, na infância, acabava a luz em casa à noite. Sem poder ver televisão, jogar vídeo game ou mesmo ler gibis – segundo a mãe, com a fraca luz das velas, podiam-lhe fazer mal às vistas –, ele era tomado pela impaciência e pela inquietação. Mas elas, naquele tempo, logo eram vencidas pelo sono, e esse só acabava quando a luz estava restabelecida, inclusive no céu. Isso foi noutro tempo. Neste, o sono parecia ter adquirido o sádico prazer de vê-lo torturado pelas elucubrações que sempre surgem junto com a escuridão. Prazer que, depois de intermináveis horas, parecia estar satisfeito. Finalmente, podia dormir. Mas, novamente contrariando o antigo script, a luz chegou junto com o sono.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Smile like you mean it

Olhou para o que havia acabado de digitar e se esforçou para acreditar naquilo. Se aqueles caracteres careciam de alguma expressão, ela precisava de muito mais. Tinha que se demonstrar bem, senso de humor intacto, esperança na vida inabalável e, para a nobre missão, designara o ícone. Sem a devida claque, as banalidades e gracejos do e-mail poderiam ser tomados como o riso nervoso de uma pessoa patética, desesperada para se provar bem. Por outro lado, só alguém assim para crer que dois pontos, um hífen e um parêntese seriam capazes de mascarar as reais intenções daquele texto. Desesperada, mas querendo evitar o patético, buscou no teclado alguma coisa que pudesse salvar o texto. E lá estava o “delete”.