sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Who Put The P in Portugal?


Em 2007, morei durante alguns meses em Lisboa. Parte desse tempo, na casa do meu grande amigo Fábio São Pedro – que tem um coração bem maior do que o apartamento que ele e a então esposa ocupavam no (bairro do) Rato. Como eu, o Fábio é publicitário, diretor de arte. No caminho do aeroporto para sua casa, me contou que estava duplando (o verbo que nós, criativos, usamos para nos referir a trabalhar em dupla) com um redator português, o Pedro Gonçalves.
 
Até pouco tempo, disse, o Pedro trabalhava como jornalista musical, tendo sido diretor de redação da Blitz – a maior revista lusitana dedicada ao tema. Mais legal que o currículo, só o próprio Pedro, garantiu meu amigo. Não precisei esperar muito para comprovar. Quando terminávamos nosso almoço – um frango que a Carol tinha comprado sem saber que eu não gosto, mas que, morrendo de fome, devorei sem pensar –, o Pedro apareceu por lá. Já nas primeiras palavras que trocamos, percebi que se tratava de cara porreiro (um dos adjetivos que nossos irmãos usam para se referir a coisas e pessoas bacanas). De cara, ele já me fez inveja duas vezes: a primeira ao dizer que, numa entrevista, jantou com o Robert Smith e os demais The Cure; a segunda, ao anunciar que assistiu ao vivo, em lugar privilegiado (do lado do Alex Kapranos, do Franz Ferdinand) ao show de 45 anos do Morrissey – que só vi no fabuloso DVD “Who Put The M in Manchester?”. Ah, sim, o Pedro se revelou grande fã do Moz e sua antiga banda. Desnecessário dizer que nos tornamos bons amigos. Nos meses seguintes, tomamos vários imperiais (os chopes da terra de Pessoa) no Bairro Alto, em várias oportunidades para ouvir mais histórias do Pedro, ótimas como aquelas com que ele me brindou quando nos conhecemos.

Passados quase 7 anos, quando fechava “Quem Vai Ficar Com Morrissey?”, o editor Marcelo Viegas me perguntou quem eu recomendava para escrever o prefácio do livro. Sem pensar muito, como não havia pensado para comer aquele frango, falei o nome do Pedro. Mas, bem ao contrário do meu primeiro almoço em Lisboa, não o fiz porque “era o que tinha”: se o Pedrão topasse, seria do caraças (versão publicável lisboeta para “do caralho”), uma grande honra. Havia, no entanto, o problema do tempo. Se o prazo já seria apertado se ele já tivesse lido o livro, imagine sem ainda tê-lo feito? Quanto a isso, eu dizia ao Pedro para não se preocupar, que, sem ler, as chances de falar bem do livro eram bem maiores. Mas você acha que o renomado Pedro Gonçalves assinaria o prefácio de um livro sem saber do que se trata? Amizade tem limites. Felizmente, ele leu, gostou e achou espaço na sua corrida agenda para escrever a apresentação do meu primeiro romance. Sorte minha e de quem pôde ler frases lapidares como “Quem tem os Smiths, Johnny Marr e Morrissey na sua vida tem mais do que os outros. Que me desculpem os outros.” E eu digo: “Quem tem amigos como o Pedro na sua vida tem mais que os outros. Que me desculpem os outros.”


Feliz aniversário, Pedrão. Toma umas imperiais no Bairro Alto por mim, se faz favor.