quinta-feira, 27 de abril de 2017


Você escreve um livro. Um livro pessoal. Não é necessariamente autobiográfico, mas muitos dos que leem acreditam: quem está ali é você, não um personagem. Por mais que o livro se baseie em você e em acontecimentos vividos, o protagonista não é você, a história não é a sua. Você faz questão de reforçar isso sempre que possível, mas não é o suficiente. Acontece com você o mesmo que a um ator confundido com seu papel na novela. Pessoas que não te conhecem de fato julgam-se muito próximas, impressão intensificada pelas redes sociais, nas quais te seguem. Esperam receber de você o tratamento dos íntimos. Quando você, embora atencioso, não as trata como tal, sentem-se traídas. Salinger diz que, quando um livro é bom mesmo, temos vontade de ser amigos do autor, para poder ligar para ele. Penso nisso e, lisonjeado, entendo esses leitores. Espero que eles também me entendam.