quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Como dizia Winston Churchill


“Você tem Orkut?” Não sem certa vergonha, respondo que sim. Ou melhor, respondia. Não que eu não tenha mais Orkut. O que eu não tenho mais é vergonha de ter. Que é um negócio brega, sem muita utilidade a não ser a óbvia de se expor – isso é uma utilidade? – todo mundo concorda. Mas, todo mundo, ou quase todo mundo, tem. No Brasil, pelo menos. No exterior, o site de relacionamento da Google não pegou como aqui. O povo de “fora”, pelo que sei, prefere similares, como o My Space e o Facebook – no qual eu também tenho um perfil, ainda sem saber muito bem porquê.

A verdade é que, nesses anos todos, o Orkut não me serviu de nada. Sim, reencontrei algumas pessoas que não via há muito, mas, embora as tenha “encontrado”, continuo sem vê-las pessoalmente, e nosso contato não passa da troca de alguns recados, isso quando há. Agora, volte à primeira frase desse parágrafo e acrescente um “quase” entre o “serviu de” e o “nada”. O maior serviço que a famigerada página azul me prestou foi o contato com uma frase atribuída a Winston Churchill que vi no perfil da amiga de um amigo – uma semi-conhecida, como a imensa maioria no meu Orkut e no de qualquer um. Embora soubesse vários ditos do ex-primeiro ministro britânico, não conhecia aquelas palavras que a menina emprestou para definir-se: “Nunca é tarde para você ser o que poderia ter sido.” Se é do Churchill ou não eu não sei – pode ser mais um caso de “Arnaldo Jabor” ou “Luís Fernando Veríssimo”, em que, para conferir credibilidade a um texto fuleiro, se atribui sua autoria a um cara fodão. Mas, sendo dele ou do cara que escreve o horóscopo, é uma puta frase.

Quando a li, a tal puta frase ficou grudada na minha cabeça. Virou mais uma daquelas que, de tanto eu falar, meus pobres amigos completam mal eu tenha começado. (Só não digo a eles, obviamente, que li no Orkut.) É, principalmente, uma frase que repito a mim mesmo constantemente, sempre que me deparo com a frustração de não ter atingido meus objetivos no tempo a que me propus. Um mantra para que, a cada dia, eu tente realizar os planos guardados naquela gaveta cheia de revistas Ele e Ela dos anos 90 que o meu irmão comprou em algum sebo.

Mas, mesmo que nunca seja tarde, uma hora vai ser. Pergunte ao cara que escreveu aquela poesia “queria ter tomado mais sorvete, ter andado mais descalço, etc.” (Não, meu caro, não foi o Jorge Luis Borges.) Então, antes de me identificar com o texto tão difundido em e-mails, powerpoints e – sim, como não – em perfis de Orkut, resolvi, enfim, “ser o que poderia ter sido”. Resolvi resgatar meu talento para desenhar.

Desde sempre, quem entrava na minha casa se deparava comigo e meu irmão deitados no chão da sala cercados de lápis e papeis. Cena comum em qualquer família bem estruturada, eu sei. Mas eu e o Rogério levávamos mais jeito para a coisa que a média. Até sonhávamos ser profissionais. Passou o tempo, e nos tornamos profissionais, mas de outras áreas: meu irmão virou advogado, eu, publicitário. O desenho foi parar em baixo da Miss Setembro 92, de onde, com o incentivo de alguns amigos, me decidi a tirá-lo.

Ontem, comecei outro blog, onde publicarei meus desenhos, novos e antigos. Ao fazê-los, empunhando um lápis antes mesmo de saber escrever, criei um calo no dedo médio da mão direita. Daí, o nome da página: “A razão do meu calo”. Com ele, pretendo me obrigar a desenhar com mais freqüência – tal como este blog cobra que eu escreva. Até já comprei um caderno de folhas em branco e canetas e lápis específicos.

Se vou mudar de carreira, sendo finalmente o desenhista que meu ego infantil queria, não sei. Dificilmente. Opa, peraí que o Mr. Churchill tá me dizendo que não é bem assim.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Seca

Declarou-se estado de calamidade. Não pública, que o meu cérebro é particular. A massa cinzenta nunca esteve tanto. As cores deram lugar à estiagem sertaneja, que faz árido meu solo cerebral, repleto de esqueletos criativos, mortos de fome e de sede. Os lampejos remanescentes, os mais resistentes, acotovelam-se no pau-de-arara, provavelmente o último. Buscam outro córtex, onde possam ter futuro. Lamentam deixar o lugar onde nasceram, mas sabem que é o único jeito. Quem sabe, no futuro, quando as coisas por aqui melhorarem, eles voltam. Mas nada indica que algo vá melhorar. Mortificado, o cenário da minha cabeça é desolador.

(Falta de inspiração? Não: reforma ortográfica. Não sei ter idéias sem acento.)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O silêncio


Na rua do meu trabalho, há um restaurante “indiano”. Aspas porque o menu tem coisas que dificilmente fazem parte da cozinha tradicional do pais de Gandhi, como tacos mexicanos, almôndegas e lasanhas – todos preparados com substitutos da carne. O que caracteriza esse restaurante como “indiano”, além do fato de não utilizar como ingrediente o animal sagrado daquela nação, é a decoração e as roupas do staff. Nas paredes, elefantes de múltiplos braços e crianças azuis, remetendo a divindades; nos garçons, saiotes, que os desencorajam a sair do restaurante durante o expediente.

Frequentador ocasional do estabelecimento, além de já ter provado quase todo o cardápio pouco hindu, pude atentar a detalhes que passam despercebidos à primeira visita. Se, de cara, você percebe que a tiazinha do caixa, provavelmente dona do lugar, não é de falar muito, talvez não note um pequeno papel colado ao lado das máquinas de cartão de crédito. A frase escrita nele talvez ajude a justificar o comportamento lacônico da senhora atrás do balcão: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio.”

Quando, por volta da 13ª ou 14ª vez que almocei lá, vi o tal provérbio (sim, hindu), fiquei sem palavras. Sem trocadilhos, juro. Falador compulsivo e assumido, levei o pensamento comigo. Não o coloquei em prática na hora, nem o adotei como uma máxima de vida – umas pessoas bebem, outras fumam, eu falo – mas o levei comigo. Levei inclusive para a praia, onde passei a última semana: olhando o mar, fiquei calado durante inacreditáveis 15 minutos umas três ou quatro vezes.

Sempre admirei o Portishead por saber o valor do silêncio. Versão trip-hop de J.D. Salinger, sumido após “O Apanhador no Campo de Centeio”, eles gravaram dois discos – um genial, outro ótimo – e só. Mais de 10 anos se passaram sem noticia de novo álbum. A ansiedade pelo terceiro CD aumentava e, com ela, o culto pelo grupo. Gênios. Ano passado, eles anunciaram o fim do jejum sonoro. Se o silêncio vale ouro, o lançamento do Portishead seria pelo menos disco de platina.

Com o disco, vieram as criticas. Ao contrário do grupo de Bristol, os críticos falam muito e, muitas vezes, falam demais. Por isso, não acreditei nas primeiras resenhas sobre “Third”. Por via das dúvidas, hesitei para baixar o álbum. Não queria confirmar meus temores de que elas estivessem certas. Hoje, tomei coragem e baixei o disco. Se a banda traísse minhas expectativas, não queria ser o último a saber.

Antes permanecesse na ignorância. “Third” é tão chato que não consegui ouvir até o final. Não vou tecer análises técnicas nem estéticas, dizer que o trip-hop é um estilo datado (até porque vi um show do Massive Attack e gostei deveras), etc. Limito-me a dizer o que já disse: o disco é chato.

Sem dúvida, a turma do Portishead nunca foi ao “indiano”. E se foi, não reparou no papelzinho ao lado das máquinas de cartão de crédito.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Luau macabro

A hora para começar a cantoria não poderia ser mais adequada. Depois que todos mataram suas garrafas, o camarada do violão começou seu assassinato particular.

Toda a bebida não impediu os dois amigos de notar o massacre das melodias. Mesmo bêbados, eram as únicas testemunhas lúcidas do crime hediondo. Ninguém mais parecia ver os olhos de “Pintura Íntima” serem arrancados. Tampouco “More Than Words” abraçada a “Have You Ever Seen The Rain”, ambas com vísceras à mostra, gritando por socorro.

Quando vomitaram, ao mesmo tempo, os outros pensaram que os dois tinham exagerado. Não sabiam: quem tinha bebido demais eram eles.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Presente (de grego) de mãe

O poder de voar. A visão raio X. A superforça. A Lois Lane. A cueca vermelha. Adivinha o que eu e o Super-Homem temos em comum?