quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mens sana em corpore precisando mijar


Ontem, coloquei meu nome ao lado dos escaladores dos montes mais altos, dos maratonistas que percorreram as mais longas distâncias, dos mergulhadores que atingiram as maiores profundidades. (E, como os deles, o meu nome também não será lembrado por ninguém.) A exemplo desses bravos, desafiei os limites da mente e do corpo humano.

Um pouco mais orientado na capital lusitana, aventurei-me por suas ruas em tarefas cotidianas. (Não que trocar traveler cheques e comprar ingressos para shows de Artic Monkeys, Nouvelle Vague e Aimee Mann seja uma coisa que eu faça todo dia, mas certamente há algum maluco que viaja o mundo acompanhando as três bandas, e ele deve agir assim sempre.) Com surpreendente desenvoltura, fui ao banco e depois ao Coliseu, lugar onde seriam dois desses concertos. Entre um lugar e outro, numa parada de horas para ler de graça na Fnac, começou a prova de resistência. Puro espírito olímpico.

Rodeado por quadrinhos de toda parte do mundo, fiz uso de técnicas aprendidas com um sensei oriental - manja o Stick, mestre do Demolidor de Frank Miller? - e suportei a visão do paraíso sem mexer nos euros recém trocados que tinha no bolso. Mas minha força vontade enfrentaria provações mais duras. Ainda na sessão de banda desenhada (como eles chamam os quadrinhos) da Fnac, me bateu o aperto de mijar, confrontado com necessidade rival: a sede. Olha a encruzilhada: tava doido para beber água, mas, se o fizesse, perigava me urinar. Não tinha naquele momento a intenção consciente de me testar - só não atendi minhas urgências porque não encontrei banheiro e bebedouro. Porém, bastou ganhar as ruas e passar por dezenas de bares, onde encontraria o que precisava, para aquilo virar mesmo uma questão de honra. Faria tudo o que tinha de fazer e, só ao chegar na casa de meus amigos, cederia ao luxo de molhar a garganta e a privada. Consegui. E, ao chegar lá, foi como se alcançasse o topo de uma montanha e nele fincasse uma bandeira (se é que isso dá tanto alívio).

Não se impressionou com minha façanha? É, o pensamento vigente não valoriza o verdadeiro heroísmo. Em vez disso, preferimos aplaudir feitos absolutamente inúteis, como expedições a lugares distantes ou quebras de recordes. Se um lugar não tem cerveja gelada ou tv a cabo, por que ir até lá? Prefiro ficar em casa. Para que correr 100 metros em dois segundos? Nada é tão urgente. Agora, resistir à vontade de usar o banheiro, isto sim tem função. Assim, você já está preparado para quando não houver nenhum por perto.

Conseguir não comprar as tentadoras edições de Love And Rockets e American Splendor, apesar de triste, também foi vital. A grana no meu bolso, afinal, era para subsistência. Mas, nesse quesito, ainda preciso de mais algum treinamento. Acabei levando um álbum. Desenhos do Manara e roteiro do Fellini por só 5,50, também já é sacanagem.

Um comentário:

Buchabick disse...

Boooooooa, filhão.