segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ditaduras loiras


Apesar de muitos condenarem a ditadura cubana, estive lá há alguns anos e não tenho nenhuma crítica em relação ao regime. Claro, é bom ter opção, poder exercer o direito de escolha, mas não vi ninguém reclamar. Portugal, por outro lado, um país supostamente democrático, oprime seu povo de maneira desumana. Opa, quem falou em política? Este texto é sobre cerveja.

Na ilha de Fidel, o dono controla tudo. Se o desemprego é grande, se faltam produtos básicos nos mercados, se o acesso ao mundo exterior é precário, pelo menos na gelada o tiozinho barbudo está mandando bem. Lá só existem duas marcas, ambas de fornecimento estatal: Crystal, suave como sugere o nome, e Bucanero, ignorante como um - graduação alcoólica de mais 5%. Não nos deixavam sentir saudade dos rótulos nacionais (esses que alguns tiram da garrafa e colam na mesa ou no copo, nunca soube exatamente por quê). Só não eram melhores que o rum porque, bem, porque nada em Havana é melhor que o rum.

Quase três anos após minha visita a um dos últimos rincões comunistas, chego a Lisboa em meio a um festival de rock promovido por um fabricante de cerveja local. Como era de se esperar, só se encontrava a marca do patrocinador: Super Bock, bem mais ou menos. Ah, mas os shows eram tão legais que valiam o sacrifício. "Só assim para fazer a galera beber isso aqui", pensei. "Uma estratégia que a Kaiser também poderia adotar. Se bem que, para dar certo, eles precisariam trazer os Beatles." No dia seguinte, não precisaria tomar mais aquele líqüido com gosto de remédio - só o gosto porque, em vez de curar, dava dor de cabeça.

Mal sabia que, como no país caribenho, no ibérico também só há duas marcas. Além da Super Bock, Sagres, que, se não é motivo para contar os minutos para o happy hour, ao menos não faz a cabeça latejar - não se consumida em quantidades modestas. Em qualquer bar que se vá, não tem jeito: ou é Sagres ou Super Bock. Ou, pior, só Super Bock - a marca tem exclusividade em muitos estabelecimentos.

Resumindo: pelo sabor, o melhor seria não tomar cerveja nestas bandas. Por que não substituí-la por vinho, de qualidade e preço muito mais convidativos? Simples: porque sou macho, e macho que é macho bebe cerveja, não vinho.

Se você não for macho o suficiente para encarar Sagres ou (éca) Super Bock, ou se não estiver disposto a abandonar a cerveja - e para abandonar a cerveja, só não sendo macho o suficiente -, sempre existe o aeroporto. Nisso, Portugal leva vantagem em relação a Cuba. Quem não estiver feliz com a ditadura, pode simplesmente deixar o país.

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