segunda-feira, 15 de maio de 2017

Simpatia na padaria 1

Numa esquina perto da minha casa, um ponto ótimo, reinava absoluta, no raio de um quilômetro, uma padaria. Monarca arrogante, a Abelha Rainha tinha certeza de que não seria destronada.
O dono, um velho português mal humorado, não fazia a menor questão de ser cordial e também não exigia isso dos funcionários. A qualidade dos produtos não era muito melhor que a do tratamento dispensado aos clientes. Para completar, o ambiente, de móveis velhos e azulejos lascados, era tão acolhedor quanto. Some-se isso tudo e o resultado é o número de vezes que estive na padaria nestes nove anos em que moro no bairro: seis, no máximo.
Eu e meu irmão, também morador da vizinhança, sempre falávamos:
- Se alguém comprasse essa padaria e transformasse num lugar razoável, ficaria rico.
Eis que esse dia chegou. Passando em frente, vi, além das obras para uma rampa de acesso, uma faixa que avisava: agora pertencente a uma rede, a padaria estava sob nova direção. Em princípio, fiz cara feia. Por mal encarados que fossem o português e seu estabelecimento, torço para os pequenos comerciantes. Torcia para uma fada, como uma fizera com o Pinóquio, transformar aquele português numa pessoa de verdade. Não que o dono dessa tal rede de padarias seja o Abílio Diniz: é apenas um pequeno empresário mais bem sucedido e, sem dúvida, mais cuidadoso -- com tudo.
Pensando nisso, resolvi dar um voto de confiança para a "nova" padaria da esquina. Domingo passado, voltando da corrida, passei por lá para comprar pão. Fui atendido por um balconista sorridente. Em excesso.
- Bom dia, meu amigão - disse o sujeito que eu nunca tinha visto antes.
- Prontinho, meu queridão - foram as palavras do colega ao me entregar os pãezinhos.
- Bom domingo, vai com Deus - acenaram quando fui embora.
Hoje, cinco dias depois, também ao terminar uma corrida, cogitei tomar café na tal padaria, mas bastou lembrar da simpatia forçada dos atendentes para desistir. Tive saudade do português e a certeza: continuarei indo à sua antiga padoca com a mesma frequência.
(Originalmente publicado na minha página no Facebook)

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