domingo, 10 de abril de 2016

Velhinhas aleatórias

Acontecia, em geral, em manhãs ensolaradas. Bem humorado, decidia dar bom-dia para a primeira velhinha por quem passasse. Os verbos todos estão no passado porque, diante de uma sucessão de recepções carrancudas, abandonei o hábito. Mas nada como uma manhã ensolarada após a outra.
Vindo do parque, eu subia a ladeira. Na direção oposta, duas velhinhas bem velhinhas, ambas um tanto corcundas, andavam de braços dados, apoiadas uma no resto de força da outra. Uma imagem linda, digna de algum post de autoajuda. Mesmo sem ser chegado nessa categoria literária, não sou imune a tamanha ternura enrugada. Abri um sorrisão.
Para minha surpresa, vejo os lábios de uma das senhoras se mexendo em palavras dirigidas a mim. Tiro os fones e ouço o bom-dia anteriormente negado por tantas outras contemporâneas suas. Obviamente respondo:
- Bom-dia!
- Cê viu só? Duas velhinhas passeando!
- Tá certo! Têm que passear mesmo. Bom domingo para as senhoras.
- Pra você também, meu filho!
Elas continuaram o passeio do mesmo jeito trôpego, e eu de outro jeito, muito mais bem humorado. E convencido a retomar o hábito de dar bom-dia para velhinhas aleatórias.

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