quinta-feira, 2 de agosto de 2007

De baixo do meu nariz




Todo mundo conhece alguém que, hoje moreno, diz ter sido loiro na infância. Já vi, inclusive, gente de coloração muito próxima à do Kunta Kintê jurar isso de pés juntos. É a mesma coisa com os olhos, que todo mundo já teve azuis ou verdes. Nesse caso, acho mais fácil de acreditar, vide o Hélio de La Peña, do Casseta, ou a minazinha indiana daquela capa clássica da National Geographic.

Se há um período da vida para alguém ser de fato e naturalmente ariano, essa fase é a meninice. É a ordem natural das coisas, em se tratando de cachos e pupilas: escurecem à medida que você envelhece e, depois que tiver envelhecido, voltam a ficar claros. Cabelos ficam brancos e olhos, por efeito da catarata, também.

Sou das poucas pessoas que nunca tiveram nem olhos nem cabelos claros - apesar de, quando pequeno, ter sido chamado de "galego" por um senhor de quem os Alcóolicos Anônimos devem ter desistido. Ao contrário do meu irmão que, de fato, já teve madeixas aloiradas, sempre fui moreno. Cabelos e olhos castanhos-escuros - talvez pretos, mas modestos demais para se admitirem assim.

Agora, com os trinta, é natural que alguns dos meus fios quase pretos fiquem cada vez mais distantes dessa cor (maldita ordem natural das coisas). Mas, além desse fenômeno prozáico, está acontecendo comigo outro, que mereceria a análise de cientistas, nem que para isso tivessem de deixar de lado a busca da cura do câncer. Mais de 25 anos depois do que seria comum, estou ficando loiro. Quer dizer, o meu bigode está. Não é branco não, é loiro mesmo. Ao contrário daquele senhor que me chamou de galego, eu sei exatamente como identificar um.

De uns tempos para cá, decidi deixar isso-que-eu-chamo-de-barba crescer. Então, além de trocados de pessoas que me tomaram por mendigo, recebi o convite para participar de um circo de aberrações. Quando pensei terem me confundido com uma mulher e por isso terem me feito a proposta, olhei-me no espelho e dei de cara com o buço loiro. "Coisa horrorosa!", já diria o dublador brasileiro do Gene Wilder. Era um bigode amarelo, tipo o do Leôncio do desenho do Pica-Pau.

Depois de muitas piadas e expressões horrorizadas (inclusive as minhas próprias ao me olhar no espelho), achei melhor raspar tudo. Agora, já consigo olhar o espelho sem me horrizar (tanto). Sinto-me mais jovem. Mesmo assim, penso em cultivar a barba novamente. O desemprego está tornando a oferta do circo de aberrações cada vez mais interessante.

2 comentários:

ju leal disse...

e para as outras existe "Crecin 2000"

ju leal disse...

aliás, me deu um estalo mental... é Grecin 2000, mais estranho ainda...