quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Paredes de Coura são as que têm melhor acústica


Como quarta seria feriado em Portugal, terça à noite eu e o Fábio fomos para Paredes de Coura, cidade de nome estranho onde se realiza um festival que tem o azar de ser homônimo. Fica a, mais ou menos, uns 550 km da capital portuguesa. Estrada boa e sem trânsito (mesmo, quase nenhum carro), chegamos em tempo de pegar mais da metade do show do New York Dolls. Se a performance dos tiozinhos não fez jus aos tempos em que ainda se vestiam de mulher, a do Dinosaur Jr, sim, foi do cacete. Não paramos de bater cabeça um segundo. E, nesse caso, a chuva que caía ajudou: se não fosse por ela, este meu cabelinho ruim jamais sairia do lugar.

Depois dos shows, montamos uma tenda. Foi então que me lembrei porque nunca tinha acampado antes. Puta desconforto, mal consegui dormir. No dia seguinte, ainda sob chuva, resolvemos desarmar a barraca e levar as coisas para o carro, porque, logo após o Sonic Youth, já pegaríamos a estrada. Choveu durante mais um tempo e, depois, para a nossa sorte, o tempo se abriu. Aí, deu até para pegar um sol no gramado próximo à área de camping, onde uns caras estranhos estavam declamando umas poesias ídem. Ao contrário do que parece, foi bacaninha.

Por volta de umas 18h, fomos à região do palco, muito legal, por sinal. Era um buraco - no sentido de depressão topográfica, não no de lugar de merda. Ficava no fundo, o que possibilitava, além de ótima acústica, uma boa visão, mesmo para quem estava distante. Não foi o nosso caso. À medida que o concerto do Sonic Youth se aproximava, a gente fazia o mesmo. Antes do que mais queríamos ver, tocaram sete grupos, entre eles, uns novos (Sunshine Underground) e outros obscuros (Electrelane). A surpresa ficou por conta de Peter, Bjorn e John, com boa presença de palco e repertório para além de "Young Folks" - que teve, aliás, uma versão abaixo da original; a voz feminina fez falta. Mal acabou o show dos três, a movimentação em direção aonde estávamos se intensificou. O pessoal se acotovelava, afoito, para ver o Cansei de Ser Sexy, mega sucesso por aqui e por todo lugar que não seja o Brasil. A banda é boa? Não. O show foi ruim? Também não. Eles são bem divertidos. A vocalista, uma japonesinha num colant de lantejoulas, não parava de falar besteira e zoar os portugueses, que ela parecia ter esquecido serem a platéia. Imitando o sotaque local, soltava "brigadinhos" e cantava "é uma casa portuguesa, com certeza". Resvalava na falta de respeito, e só não o foi por causa da simpatia dela - a velha da tática do "na boa" antes de "vai tomar no cu" ou coisas do gênero. A tática funcionou, e a galera foi ao delírio.

A seguir, o momento de separar os meninos dos homens. Não só porque o Sonic, ao contrário do CSS, é uma banda, mas também porque, terminado o show desses últimos, a molecada que se concentrava perto do palco deu lugar a um pessoal mais, er, vivido. Excelente show, bem melhor do que aquele que vi há 2 anos no festival paulistano Claro Que É Rock. Se os conterrâneos Dolls desmereceram a Nova York que trazem no nome, Lee Ranaldo, Thruston Moore, Kim Gordon e o baterista, cujo nome ninguém lembra , honraram a Grande Maçã. Além do novo disco inteiro, tocaram alguns clássicos, como "Bull In The Heather" e "100%". Mas, como no Claro, também teve o momento do show em que eles cagaram para o público e se divertiram a fazer barulho para seu próprio entretenimento e dos fãs mais ardorosos, que viajavam junto. Muito simpáticos, voltaram para dois bis. Generosidade que eu, cansado e com o corpo todo dolorido, dispensaria.

Por volta das 2h da madrugada, fomos para o estacionamento, agradecendo a Deus por já termos colocado todas as coisas no carro. No caminho para Lisboa, paramos num posto para abastecer e dar uma cochilada. Eram pouco mais de 8h quando o Fabião me deixou em casa (é até engraçado eu me referir assim a um lugar a milhares de quilômetros do Brasil). Foi só o tempo de tomar um banho e vir para a agência. Se agora estou conseguindo aguentar o sono, sei que, depois do almoço, a coisa vai ficar feia. Mas ruim mesmo seria se eu tivesse 30 anos. O tranco seria muito pesado para alguém dessa idade.

5 comentários:

ju leal disse...

eu preciso anotar aqui na mente, ou ler esse texto daqui um tempo, que eu preciso acampar e ir num festival desse tipo antes dos 30, né? pq se cochilo depois do almoço em reuniões com 22, vc imagina na casinha dos 3? vixeee!

ju leal disse...
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Marcelo Machado disse...

Leandrão, ótima reportagem.
Mal posso esperar para ver seus textos a respeito de fazer 40 anos.
Data essa que se aproxima a quase velocidade da luz, acredite.

Leandro Leal disse...

Espero que você espere pelo menos mais uns 10 anos para ler esses textos, Machadão. E espero que espere bastante.

Marcelo Machado disse...

Infelizmente, ladeira abaixo é mais rápido...