Não tomei nenhum (sim, nenhum) gole de refrigerante,
reduzi consideravelmente a quantidade de vezes em que bebi durante a semana,
passei a comer mais peixe e salada. Esses fatos, aliados a treinos mais
regulares e melhores, me ajudaram a perder um pouco mais de peso e a correr
minha primeira meia-maratona. Continuei utilizando o transporte público com
frequência, e esse hábito, também combinado à diminuição das minhas incursões
alcoólicas semanais, me permitiu ler mais livros do que no ano anterior. E, já
ia esquecendo, a começar a escrever meu próprio segundo romance.
Essa relação do que o pessoal do Faith No More
chamaria de “pequenas vitórias” poderia ser a lista de quantas promessas de ano
novo consegui cumprir em 2014. Não é. O que todos esses grandes feitos insignificantes
(para o mundo, claro) têm em comum – além de alguma correlação – é justamente
que nenhum deles vem de resoluções de réveillon. Se eu tivesse me proposto
alguma dessas coisas como meta, nenhuma seria atingida. Sou péssimo com promessas. Levou anos para eu me dar conta e admitir isso, mas, só quando parei de
me prometer coisas, comecei a cumprir. Nesta última virada, devidamente
escaldado, mantive o hábito.
O diabo é que, hoje, na hora do almoço, caí na
besteira de me propor uma mudança de hábito – e, por estarmos nos primeiros
dias de 2015, ainda se encaixa como resolução de ano novo. Após comer,
atravessei o shopping na volta para o trabalho e, como sempre faço, passei numa
livraria. Caminhando para a loja, pensei: “Nada de comprar mais livros, seu
puto. Você já tem uma porrada para ler. Neste ano, nada de ficar cedendo ao
impulso consumista literário. Nem se tiver uma baciada de livros na Fnac.” O
diabo é que (sim, sei que comecei esse parágrafo com essa expressão; mas o
diabo andava muito presente) tinha uma porra duma baciada na Fnac – um mesão
cheio de livros, na verdade.
Tudo bem: eu estava resolvido a não comprar nada. Nem se
achasse um livro tão sensacional quanto “A Irmandade da Uva” (do John Fante, um
dos meus escritores favoritos), que comprei exatamente numa dessas promoções.
Essa maravilha, aliás, estava lá, em algumas cópias. Meu impulso consumista
literário, esse ao qual prometi não me render, manifestou-se. O diabo
cochichou: “Puxa, que pena que você já comprou esse, né? Mas um livro tão bom
dá vontade de comprar várias vezes...” Eu respondi ao diabo: “Até dá, mas qual
é o sentido de ter várias cópias do mesmo livro? Ainda mais de um que li há
pouco tempo, e nem perdi...” O diabo concordou, desapontado. Mas logo se
reanimou: “Ah, lembra que você acabou de encontrar a Vanessa, há poucos
minutos?” Respondi que lembrava, e daí? “Você até perguntou para ela se ia
comemorar o aniversário junto com o Costela, como fazem todo ano... Por que
você não compra o livro pra eles? Um pra cada um?”, sugeriu o tinhoso. “Pô,
diabo, dar o mesmo presente para os dois? No mesmo dia?” “E qual é o problema?
Assim, cada um tem sua cópia, não vão precisar emprestar um pro outro. Nem
pedir emprestado pra você. Lembra que o Costela já pegou alguns livros seus e
nunca devolveu? Cadê ‘O Velho e o Mar’? Cadê ‘Na Estrada com os Ramones’?
Então... Além do mais, assim, você consegue comprar mais duas vezes essa
maravilha”, arrematou o diabo.
Com argumentos tão consistentes, não me atrevi a contrariar, nem o diabo nem meu impulso consumista literário. E já que estava com a mão na massa – leia-se no cartão de crédito –, comprei mais duas pechinchas: um livro de crônicas parisienses do Rubem Braga e “O Filho da Mãe”, do Bernardo Carvalho.
Com argumentos tão consistentes, não me atrevi a contrariar, nem o diabo nem meu impulso consumista literário. E já que estava com a mão na massa – leia-se no cartão de crédito –, comprei mais duas pechinchas: um livro de crônicas parisienses do Rubem Braga e “O Filho da Mãe”, do Bernardo Carvalho.
Pronto. Prometo que não
prometo mais nada. Nem no ano novo, nem depois.
(Van, Costela: foi mal
estragar a surpresa.)
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