sábado, 5 de julho de 2014

Neymar

Atendi, durante um ano, uma das contas publicitárias que têm Neymar como garoto propaganda, o que me deu a oportunidade de conhecê-lo. Foi na gravação de um vídeo publicitário – um tutorial, o conhecido "passo-a-passo", não um comercial propriamente dito. Foi num estúdio improvisado, no prédio de uma faculdade em Santos, para atender as exigências da lotada agenda do jogador. Ele chegou tarde da noite, mas foi pontual. Cumprimentou todos os presentes, que não eram poucos, individualmente, com um aperto de mão. Depois, mantendo o profissionalismo, repetiu o texto quantas vezes pedimos. Com o fim da gravação, quem não foi profissional foi a própria equipe de filmagem: todos, sem exceção, foram importuná-lo em seu camarim (também improvisado) com dezenas de camisas para serem assinadas. Eu também levava algumas, mas não quis me juntar àquela gentalha. Preferi respeitar o espaço do craque. Alguém ali, além dele, tinha de ser profissional. Embora tivesse treino com o Santos na manhã seguinte e já fossem mais de 2:00h, ele não se negou a estender um pouco mais sua permanência ali e também gravar a voz para outra peça. Nesse momento, ao ver as camisas que trazia comigo, ele me perguntou se queria autógrafos e os deu, cansado, mas mantendo a sua simpatia profissional. Agradeci, não apenas pelos garranchos, mas por tudo o que ele já havia feito pelo meu Santos.

Quando ele se transferiu para o Barcelona, não nego, fiquei magoado. Sim, ele ficou no meu time por muito mais tempo que expoentes bem inferiores a ele costumam ficar nos seus antes de se mandar para a Europa. Não, ele não saiu do Santos rumo a um Betis da vida, simplesmente por dinheiro. Mas quem é que gosta de ser abandonado, mesmo sabendo que a ex vai se casar com um cara muito mais legal, bonito, inteligente, rico e bem-dotado? A mágoa, porém, não durou muito. A transação foi feita de modo escuso, como se revelou depois, houve troca de ofensas entre o ex-presidente santista e o pai do Neymar. Mas o craque, num novo exemplo do seu costumeiro profissionalismo, não disse uma palavra que pudesse desabonar seu histórico brilhante com a camisa mais importante do futebol mundial – sou torcedor do Santos, esqueceu? Então, como não faria com nenhuma ex, torci para ele ser feliz, como fez a mim e à toda torcida do Santos. E, principalmente, para que ele continuasse fazê-lo a mim mesmo, agora como torcedor da Seleção Brasileira (sempre com letras maiúsculas, que é assim que tem que ser). E que isso, claro, acontecesse este ano, na Copa do nosso país.

E assim estava sendo. Ele começou arrebentando, liderando a Seleção, estabelecendo-se entre os melhores jogadores e artilheiros deste torneio, trilhando um caminho – bem esburacado, é verdade – rumo ao hexa. Mas havia uma pedra no meio do caminho. Pior, havia um joelho. Um joelho que não foi apenas desastrado: foi mal intencionado, mal fadado, mal interpretado pelo juiz, que manteve o seu dono, o carniceiro Zúñiga, em campo. Acabou com as chances do Neymar de se confirmar como o craque e artilheiro do torneio – e talvez com chances do Thiago Silva erguer a taça por nós. Acabou também com a graça dos que acusavam o moleque de cai-cai. Neymar já vinha sendo caçado há vários jogos – como, aliás, sempre foi –, mas ontem foi, finalmente, abatido. Estou vendo agora um vídeo que foi exibido exaustivamente ao longo do dia, mas que não tinha conseguido ver direito, em que o moleque, com os olhos inchados de chorar, tenta consolar a Nação pelo próprio infortúnio. Mais uma prova do seu incontestável profissionalismo.       

Por triste e dramático, o lance com Neymar é mais um dos que fazem esta Copa memorável como poucas – a Copa das Copas, como pretendia o profético slogan criado pela presidente Dilma. E não é bizarro e risível como o da mordida do uruguaio Suárez no italiano Chiellini – que, no fim das contas, não passa disso mesmo; bizarra e risível. A joelhada de Zúñiga é dos maiores crimes já cometidos dentro de campo em uma Copa do mundo, algo que, usando uma expressão que detesto, “ninguém merece”. Muito menos um moleque tão talentoso e... profissional (acho que já disse isso, não?) como Neymar. Um moleque que acompanho desde antes do primeiro jogo no time principal do Santos -- contra o Mogi Mirim, no Campeonato Paulista de 2009, ao qual compareci -- e espero acompanhar por muito tempo. 

PS: Na foto, tirada no nosso encontro, ao contrário de mim, Neymar está em sua melhor forma. 


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