Antes de Andy Rourke subir ao palco,
para uma pequena porém emocionante participação no show do velho amigo Johnny
Marr, eu já estava suando. Bem mais que a emoção, o que me fazia transpirar era
o calor incomum para o outono paulistano. Num desrespeito não condizente com a importância
dele, a organização do festival escalou Johnny para se apresentar às 14h30.
Dias depois, reencontrei o ex-baixista dos Smiths. Não estava mais sob um sol
abrasador, nem entre milhares. Mas, mesmo assim, mesmo com o ar condicionado da
rádio, minha transpiração ultrapassava a do domingo anterior.
Estava nervoso. Tinha ido à sede da 89 FM para entrevistar
um integrante da minha banda preferida. Era uma emoção ainda maior do que vê-lo
tocar "How Soon Is Now?" ao lado de um dos gênios que a compuseram – uma emoção,
aliás, que já tinha sido grande. Para me preparar, escrevi uma série de
perguntas e, temendo as propriedades amnésicas do nervosismo, me esforcei para
memorizá-las, lendo-as e relendo-as seguidamente até a hora da entrevista, que
a MTV havia me convidado para fazer. O Mariano, diretor do programa
Coletivation, tinha lido "Quem Vai Ficar Com Morrissey?"e, tendo
gostado, achou que seria boa ideia chamar o autor para a tarefa -- quem sabe, para realizar o sonho do protagonista de ser repórter musical. Uma ótima
ideia, uma grande honra, que não parece ter levado em conta o enjoo de um
marinheiro de primeira viagem. A produtora Laís, por sua vez, levou. Para me
ajudar, imprimiu as perguntas e as colocou em plaquinhas, colas escolares
autorizadas, que eu teria à mão e poderia consultar durante a entrevista. Além
disso, para não deixar dúvidas de que era gente boa, a moça fez alguns
"ensaios" comigo, colocando-se no papel do Andy Rourke, para aliviar
minha tensão.
Chegou a hora, e nada daquilo adiantou. Suei, gaguejei
e minha mão, segurando o microfone, tremeu. Mas o nervosismo não afetou minha
memória, ao contrário: não consultei nenhuma das plaquinhas, seguras pela outra
mão, mantida presa às costas durante todo o tempo. Ótimo eu saber o que
perguntar, péssimo o efeito visual daquela mão para trás, tão nervosa e
amadora, tão contrária à articulação quase arrogante dos VJs que cresci
assistindo numa outra encarnação daquela mesma MTV. Meu inglês, que nunca havia
me deixado na mão, mostrou-se tão vacilante quanto eu. Esqueci completamente a
recomendação do câmera e mal olhei para a lente do seu equipamento. A última e
inequívoca prova do meu nervosismo: falei demais, fui muito fã. Até agora,
passadas duas semanas, ainda não vi a gravação. Mas, apesar das afirmações
contrárias do pessoal da MTV, tenho certeza que ficou péssima.
Semana passada, na segunda, fui aos estúdios da
própria MTV gravar minha participação no Coletivation. Dessa vez, as
oportunidades de dar vexame seriam outras, mais familiares – afinal, já havia
sido entrevistado antes, no programa Combo Fala+Joga, da PlayTV. Naquela
ocasião, apesar das dificuldades de controlar joysticks e língua ao mesmo
tempo, até que me saí bem; no Coletivation, acho que também não fui de todo mau. Contribuíram para isso os apresentadores Patrick e Kéfera, muito bacanas.
Apesar da levada stand up comedy do
programa, não me usaram – muito – como escada. Me deixaram falar um bocado,
sobre Smiths, Morrissey, Andy Rourke e sobre o livro – óbvio. Mesmo sem ter
visto o produto final, saí de lá com um bom pressentimento.
Na próxima quarta, dia 30, às 20h, finalmente verei se fiz assim tão
feio na entrevista com o Andy Rourke – e se mandei tão bem mesmo no
Coletivation. E você também vai ver: às 20h00, na MTV.
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