quarta-feira, 19 de março de 2014

Ídolos da Jukebox Mental

Ontem, aconteceu mais uma etapa divertida no trabalho de divulgação do meu livro “Quem Vai Ficar Com Morrissey?”. Foi nos estúdios da Play TV, onde gravei duas entrevistas muito bacanas para os programas Combo Joga + Fala e Play TV News. No primeiro, fui entrevistado enquanto jogava vídeo game com o apresentador Rodolfo – um puta desafio para quem, como eu, tem um déficit de atenção considerável. Teve um momento em que o Rodolfo, vendo que eu estava dando mais atenção ao jogo de luta do que à nossa entrevista, disse: “Pô, o Leandro realmente tá tentando ganhar de mim!” Gravar para o Play TV News também me pôs à prova, mas de outro jeito: tratava-se de uma entrevista rápida, e eu, que falo mais que o homem da cobra, fui forçado a ser sucinto. Se bem que, nesse caso, se tivesse falado demais, acho que a edição daria um jeito.

Além das entrevistas, a tarde na Play TV teve outras passagens memoráveis: dois encontros com grandes figuras da música brasileira – cada um na sua devida prateleira. Eu e a Laura (Macoriello, assessora de imprensa da Edições Ideal e autora dos livros “Rock Para Pequenos”, da mesma editora) aguardamos um tempo no camarim o fim de uma gravação para entrar no estúdio e começar a minha. Além de nós, estava lá o Ricardo, sujeito conversador que dizia trabalhar com a banda entrevistada no momento, uma de pagode. Imaginei ser um desses tantos grupos novos, que nem sei o nome. Só pelas tantas, soube que eram nada mais, nada menos que os Amigos do Pagode 90. Se, segundo meu amigo Costela, o Pagode 90 é o Grunge brasileiro, os Amigos são nosso Temple of The Dog. Rapidamente, disse para o Ricardo que fazia questão de tirar uma foto com o Eddie Vedder, o Chris Cornell e o Stone Grossard – quer dizer, com o Chrigor, o Salgadinho e o Márcio Art. “Claro, vai ser um prazer.” Assim que terminaram a gravação, eles vieram, e realmente foi um prazer.

Longe de qualquer estrelismo, os pagodeiros cumprimentaram efusivamente a mim e à Laura. O Chrigor, uma metralhadora de piadas infames de fazer inveja mesmo a quem, como eu, é mestre na matéria. O Salgadinho, como que competindo, também não perdia uma oportunidade de fazer uma graça duvidosa. Um pouco mais contido mas muito atencioso, o Márcio se lembrou do meu nome mesmo eu tendo dito apenas uma vez. Entre conversas, deram uma afinada palhinha à capela, para delírio das suspirantes tiazinhas da limpeza e do café, a quem não negaram nenhum pedido de foto. Chegou a minha hora de gravar. Me despedi e lhes desejei sorte com toda a sinceridade possível. Sei que os melhores dias deles estão no passado, mas gente fina como eles merece um repeteco do sucesso.

Mais ou menos uma hora depois, terminada a minha própria gravação, soube que, agora, quem esperava no mesmo lugar onde já tinha estado era o Clemente. Sim, o célebre vocalista da banda paulistana de punk rock Inocentes e, atualmente, também da brasiliense Plebe Rude. Desnecessário dizer, também quis tirar uma foto com o cabra. Talvez até para manter a fama, Clemente foi mais carrancudo que os sorridentes pagodeiros, mas igualmente atencioso e gentil. Quando lhe mostrei e falei a respeito do meu livro, mostrou-se interessado – “Que ideia legal, cara. Parabéns!” – e se propôs a sortear uma edição no programa de TV que apresenta.


Aí você me pergunta: “Tirar foto com Clemente, tudo bem. Mas com o Salgadinho e o Chrigor? Como assim? Você não é ‘do rock’?” Mesmo achando cafona pra caramba essa história de ser “do rock”, te responderia que, sim, eu sou “do rock”. Quase tudo o que eu tenho de discos e MP3 é do gênero (e dos seus subgêneros). Mas, ainda assim, ouço muito coisas como o Art Popular, o Exaltassamba e o Katinguelê – na minha jukebox mental, mas ouço.

Se você já começou a ler “Quem Vai Ficar Com Morrissey?”, sabe bem a que me refiro. Jukebox Mental é o nome que dei ao depósito de músicas que todos nós temos sob a caixa craniana, cujos disquinhos são ativados não por moedas, mas por sinapses. Cada associação a nomes, lugares, situações e pessoas nos faz lembrar de uma música, e nem sempre essa música é aquela que pega bem dizer que ouve, tipo Neil Young ou John Coltrane. Quem nunca se pegou pensando em “Pimpolho” diante de um cara que fica assanhado diante da presença feminina? Ou olhou para  lua e cantarolou “lua vai... iluminar os pensamentos dela”? É, não vejo nenhuma pedra vindo em minha direção.   


Ao contrário da minha coleção de LPs, o acervo da minha jukebox mental nada tem de seletivo. É eclético, múltiplo e divertido, vai de Inocentes e Plebe Rude a Exaltassamba e Art Popular. Meus encontros da última tarde fazem jus a ela.


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