quarta-feira, 17 de julho de 2013

Alex, it was really nothing

 
Ontem, recebi uma mensagem do Alex, daquelas que você consegue ler com a voz de quem escreveu. “Não sou do tipo que faz isso, mas só tenho a agradecer por você ter me mostrado mais Smiths. Faz parte da minha vida hoje em dia.” O pseudo mal humorado desenhista que no fundo é bonzinho  se referia ao tempo em que, ainda publicitário, trabalhamos juntos e, além de quadrinhos e opiniões sobre os desenhos um do outro (mesmo sem o talento do camarada, também dou minhas nanquinzadas), trocamos músicas. Pelo iChat, o Alex me mandava coisas do Frank Zappa e do Hal And Oats. Eu retribuía com as menos óbvias dos Smiths – e também com as óbvias, acrescidas do comentário “escuta com atenção”.
Feliz por ter, de certa forma, melhorado a vida do amigo, respondi a mensagem. Só para descobrir, depois de algumas outras, que ela tinha sido irônica – ainda que involuntariamente. Alex se define como desenhista, mas, faz um tempo, seu trabalho extrapola esse ofício. Entre tantas coisas, já fez vitrine de loja, toy art e diversos murais: sempre acompanhados de passarinhos que piam corações, seus velhos, santas e hipsters são comumente vistos nas ruas de São Paulo e até mesmo nas paredes de algumas casas. A história que me contou se passou justamente quando fazia uma dessas pinturas, “num predinho de quatro andares.” Pintava sem dar muita atenção à música que vinha dos fones de ouvido, mas só até essa música ser “This Charming Man”.  Aí, passou a pintar com mais ânimo e, por que não?, a dançar. Empolgado, pisou em falso e só não se estatelou na calçada porque outro andaime, abaixo de onde ele estava, impediu. 
Quer dizer, as tais músicas que salvaram a vida de tantos – a minha, inclusive – quase abreviaram a do Alex. E ele, veja você, me agradeceu por isso. Mas, se pensar bem, dá para entender. Cair de um andaime num prédio de quatro andares pode não ser tão poético quanto ser atropelado por um ônibus de dois, mas tem o seu valor. (O das obras dele, aliás, aumentaria bastante – sorte de quem já comprou uma, azar dele, que não poderia tirar proveito disso.)
Por esses dias, o Alex está indo para Londres, passar uns dias. Por lá, talvez pegue alguns ônibus de dois andares, mas vai perder os mais importantes: aqueles cantados por Morrissey, cujos shows no Brasil acontecem exatamente enquanto o Alex estiver na terra dele. Depois de quase terem sido adiadas por conta de uma ameaça de morte essa sim nada lírica – intoxicação alimentar causada por um penne ao sugo (já foram feitas tantas piadas com isso, que vou deixar passar) –, as datas do ex-líder dos Smiths foram confirmadas. 

Um comentário:

Anônimo disse...

"and if a ten ton truck

kills the both of us

to die by your side

well the pleasure and the privilege is mine"