segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Leveza

Meu pai sempre foi uma pessoa leve. Talvez seja sua principal característica, que se reflete em todas as outras. Leve no sorriso, leve no humor, no otimismo, no jeito como viveu e ainda hoje vive. Já o vi preocupado muitas vezes. Coisas graves lhe tiravam o sono, mas nunca a leveza. 

Mal interpretada, essa leveza pode dar a impressão errada a respeito dele. Meu pai não é bobo, tampouco inocente. Se sorri para quem quer seja, é por escolha, por julgar ser isso o melhor que tem a oferecer. Assim, ele desarma oponentes, os faz mudar de lado. Quem conhece meu pai melhor sabe de sua sabedoria. Não aquela sabedoria entre aspas, vazio disfarçado por uma pretensa erudição. Homem de pouca instrução e muita vivência, ensina antes pelo exemplo do que com palestras, mas não nega conselhos. 

Esses dias, ele me deu alguns. Nessa conversa, falou justamente da importância da leveza. De não guardar rancores, mágoas. De saber entender e perdoar. Atribuiu a essa conduta sua boa saúde aos 75 anos e disse que é por meio dela que chegará aos 120. (Meu pai, que nunca buscou a riqueza, nisso é bem ambicioso.) Me aconselhou a deixar ressentimentos do passado por lá mesmo e a não alimentar os do presente. 

Quando lhe contei sobre alguns casos em que havia agido dessa forma, ele se mostrou orgulhoso: "Está vendo, meu filho? Amadurecer é isso." Pois é, pai. É assim que pretendo passar os próximos 40 anos. Leve como você.

Meu pai, eu e minha mãe, em 1980.

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