Ele se perguntou. Repetia a pergunta, em
silêncio, para si mesmo, dia após dia. A possibilidade lhe remoía o estômago,
sintetizada na única palavra. Somada às meras duas sílabas, a interrogação
tinha o poder de tirar-lhe o sossego e o sono.
- Será?
Quantos não estariam na mesma situação
que ele? Andando pelas ruas, via os cenhos franzidos dos semblantes em dúvida. Havia uma epidemia. Como um vírus, invisível mesmo a microscópio, o Será?
tinha o poder destruidor de um Ebola. Mas, ao contrário dele, o Será? não tinha
pressa. Matava aos poucos, alimentando-se da incerteza do contaminado.
- Será?
Era assim
que ele sentia a vida abandonar seu corpo, sutilmente, a cada vez que olhava o
aparelho. Estava ao alcance de sua mão. Seria tão fácil. Tão fácil.
- Será?
Apertasse um
botão, tudo se resolveria. Nada mais de tortura, entranhas e lençóis
revirados. Doeria no momento, mas uma só vez. Outros também
seriam atingidos, mas, como ele, se veriam livres do sofrimento da hipótese não
comprovada.
- Será?
Se a ciência tratasse o Será? como o vírus
a que se assemelhava e se ocupasse da busca para a sua cura, empreenderia tempo
e recursos desnecessários. O Será? se resolve de forma prosaica, como ele
comprovaria àquela noite, com umas cervejas a mais.
Pegou, enfim, o aparelho. Apertou o botão.
Fechou os olhos aguardando a explosão, o fim. Tudo se fez escuro. Quando seus
olhos se abriram, notou que havia apenas adormecido. A antiga bomba, preparada há
tanto tempo, já não funcionava mais.
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