Li em algum lugar: crianças e adolescentes raramente usam email.
Preferem a praticidade do Facebook e, com uma noção bastante diferente das
gerações anteriores a respeito de privacidade, muitas vezes mandam seus recados
de forma pública, para todos verem. Telefone (desnecessário o complemento
“celular”, eles desconhecem os fixos), também, só para mensagens de texto. O
que há para ser dito pode ser resumido em poucas palavras, e essas palavras,
por sua vez, podem perder letras e também ser resumidas.
Quando era eu o adolescente, a internet era recém-nascida, um conceito
quase abstrato. Computadores (sem conexão), só nas casas (não muito) mais
abastadas, e a minha não era uma delas. Os anos eram os 1990, e minha
comunicação com primos e amigos distantes se dava por cartas, escritas às
custas de muitas esferográficas e folhas de caderno – mais pela minha
incapacidade de síntese do que pela quantidade de assunto. Nos anos seguintes,
já com internet à mão, insisti nas cartas, sempre volumosas. Só as abandonei há menos de 10 anos, e
mesmo assim não por completo. Uma ou duas cartas (de amor, evidentemente) foram
escritas pelo meu próprio punho, que, não por coincidência, dizem ter o tamanho
do coração.
Nessa rapidez cretina da obsolescência, eu já olho de forma nostálgica
para blogs como este, veículos arcaicos de textos excessivamente longos que
ninguém lerá. Saudosista assumido,
insisto na sua manutenção, apesar de mal alimentá-lo. E ele, qual faquir, mantém-se
vivo, mesmo à míngua. Gosto disso, de pensar neste blog como o depósito
eventual de algo que me pareça relevante. Meio como aquela academia, à qual
você mal vai, mas continua pagando. É bom ter lugar para exercitar irregularmente
meus músculos (quase) literários.
Mas este blog não é o cúmulo da minha nostalgia: o exagero tem a forma
de um calhamaço de mais de 200 páginas. Não dá para definir de outro jeito o sentimento
que me impulsionou por tanto texto, por tantos anos – três, no total. E que me
faz, passado exatamente um ano da sua conclusão, querer publicar este livro em
apresentação física. Proliferam-se ipads e kindles, a publicação virtual
possibilita quase tudo, mas foda-se. Quero que você lamba as pontas dos dedos
para virar as páginas de “Quem vai ficar com Morrissey?”. Quero o meu livro lido
como leio o do Jonh Fante – agora sentado no banco de plástico branco promovido
a meu criado mudo. Lá, esteve antes um do Philip Roth, meu pessimista e, no
momento, escritor favorito. Em Roth, o pessimismo transborda da temática dos
livros e aponta para o seu próprio futuro – o dos livros. Para quem quiser
ouvir, ele não cansa de dizer: seu ganha-pão está com os dias contados. Segundo
ele, a mesma realidade de jovens se comunicando por não-palavras, de excesso de
informação, de dispersão, condena ao fim certo os romances. Quem tem tempo de
lê-los? Quem QUER lê-los?
Discordo sutilmente do Sr. Roth. Penso que os livros não terão o mesmo
fim das cartas. Para eles, imagino um panorama semelhante ao dos discos de
vinil. As tiragens serão a cada vez menores, mas se manterão. Os mesmos
saudosistas que compram álbuns (entre os quais, claro, me incluo) continuarão
adquirindo volumes sem ter lugar para guardá-los em seus minúsculos
apartamentos (entre os quais, incluo o meu).
É para esses saudosistas que escrevi meu livro. É por acreditar na sua
existência que produzi o vídeo acima – a única modernice a que me permito em se
tratando da minha obra. Inscrito no concurso Escritores in Progress, do SESC
SP, o book trailer pode me colocar, se escolhido, ao lado de outros dois
escritores não publicados e do poeta Fabrício Carpinejar numa mesa de debate na
Bienal, fim de semana próximo. (Se quiser me ajudar, clique aqui para votar.) Se rolar, imagino, vai dar uma força para
promover o livro, ajudá-lo a chegar ao seu criado mudo. Afinal, se você leu
isto tudo, de certo modo, também é um saudosista.
PS: Nunca é demais agradecer ao
talento e amizade do Marcelo Machado e da Renata Sette. Responsáveis pelo
sensacional “A luta continua – Um documentário em 12 rounds”, eles emprestaram
o mesmo talento que contou a história do primeiro medalhista olímpico do boxe
brasileiro para me ajudar a contar a minha. Tem noção de como fiquei honrado?
2 comentários:
Minha amiga Renata Sette pediu para que votasse em seu amigo. O que não faço para uma amiga? Então, parei, lí o texto, li de novo, e mais uma vez... Amei!! quero muito o livro!! Ele vai competir com "Espere a primavera, Bandini" em meu banco de plástico preto promovido a criado mudo. Sucesso, amigo!
Oi, Ju.
Que legal que você gostou do texto. Fico muito feliz. Independente do resultado do concurso, espero não demorar muito a publicar este livro. Como você leu, eu também estou lendo um do John Fante, "O vinho da juventude", de contos. Gosto muito dele, que comecei a ler depois por "indicação" do Bukowski (na biografia), há anos. Beijo!
Postar um comentário