segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Planos para um sábado à noite


Como bem sabem meu computador, minha TV e meu DVD, manuais não são minha leitura preferida. Agora, quem também sente meu descaso pelas instruções é a solteirice. Sábado desses, ao invés de aproveitar a tal febre noturna desse dia como manda o script dos “entre relacionamentos”, me programei para assistir a um filme que passaria na TV.

E os belíssimos planos de “2046" se mostraram melhores do que qualquer outro que eu poderia ter. Fiquei tão impressionado com a fita que, por uma semana, ela foi todo o meu assunto. Comentários do tipo “que linda a fotografia, que poético o roteiro” povoaram todas conversas que tive no período. Por pouco, quase nada, não mandei um deles ao passar pelo porteiro do meu prédio, mas o clássico “e o seu Corinthians, hein?” ainda me pareceu mais adequado.

Como a maioria do grande público, meu primeiro contato com o cinema de Wong Kar Wai se deu em sua estréia americana, o ótimo “Um Beijo Roubado” – estréia também da cantora Norah Jones como atriz. Pouco depois, aluguei outro filme seu, “Amor à flor da pele”, mas o sono me fez devolvê-lo sem assistir. Para falar a verdade, fiquei com a impressão de que a produção chinesa dele é que era sonolenta. Mas, ao ver as chamadas de “2046” no Telecine Cult, resolvi dar mais uma chance ao china. Não apenas não dormi durante o filme, mas tive certa dificuldade de fazê-lo depois.

O número do titulo se refere a duas coisas: trata-se do quarto de hotel vizinho àquele onde o protagonista, um escritor, se hospeda, e é também o nome do livro que ele escreve. Pelo quarto 2046, passam diversas mulheres com quem ele se envolve, cada uma à sua maneira. No romance, 2046 é o ano para onde, num futuro fictício, um trem leva as pessoas para resgatar memórias que, por alguma razão, lá permanecem intocadas. Nunca alguém voltou de 2046, por isso não se sabe como é o ano. O primeiro a regressar é o personagem principal da trama dentro da trama. As duas se alternam durante o filme, compartilhando personagens, inseridos na ficção pelo autor.

Como eu, Wong Kar Wai parece não gostar de manuais. “2046” escapa da mesmice na narrativa, na estética, nos diálogos, no enredo. “2046” é lindo, é inteligente, é fascinante. Provavelmente, mais do que qualquer mulher que eu conheceria se saísse àquela noite de sábado. É, eu também acho triste.

5 comentários:

Anônimo disse...

também assisti, muito bom mesmo! vale a pena ter o dvd.

Anônimo disse...

anônimo não, Clara... :-)

P.B. disse...

Opa, parei aqui por acaso, vindo do blog do Inagaki (Penasar enlouquece...) e adorei o pouco que li! Um dia venho com calma ler o arquivo também! =)

Anônimo disse...

Olha, eu já troquei vários programas legais pra assistir a filmes também, e olha, difícil me arrepender... abraço !

Leandro Leal disse...

Clara: Procurei o DVD para comprar e, como não achei, acabei baixando no Torrent mesmo. Vou rever assim que puder. Talvez, numa outra noite de sábado... :-)

P.B.: Apareça com mais calma. E, claro, não repare na bagunça. :-)

Carlos: Depois da minha recente resolução (que não é de ano novo, pois já venho fazendo isso) de não fazer o que não quero, creio que o número de noites passadas em casa assistindo a filmes vai aumentar um bocado. Abração!