quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A baia é o limite


Pretensamente antenada nas tendências do RH moderno, a diretoria da empresa resolveu pôr fim às baías e, assim, às divisões entre estações de trabalho e departamentos.

No princípio, os funcionários adoraram se livrar do confinamento do MDF, mas esse princípio não durou mais que uma semana. Na segunda, surgiram de toda parte reclamações sobre o fim da privacidade no escritório: todos tinham o que dizer sobre a vida doméstica, sexual e financeira dos outros, e diziam, sendo convidados ou não – geralmente, não eram.

O diretor de RH, então, passou uma circular explicando que a decisão de baixar as baias tinha o objetivo de favorecer a interatividade profissional, além de deixar o ambiente mais agradável. Mas para que fosse agradável mesmo, as pessoas deveriam agir como se as baias continuassem lá. No sentido figurado, é claro.

Após mandar o comunicado, o diretor de RH passeou pelas mesas para verificar seu efeito. De fato, ninguém mais estava se metendo em assuntos alheios. Pareciam mesmo seguir a orientação de agir como se as baias estivessem lá. Principalmente a gordinha da contabilidade, desapontada ao tentar afixar uma foto da afilhada no ar, e o careca de compras, estatelado na mesa após se debruçar sobre coisa alguma.

Então, o diretor resolveu reinstalar as baias. Seria mais fácil do que ensinar àquela gentalha o significado de “sentido figurado”.

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