sábado, 18 de novembro de 2017

O Pai, a Filha e o Homem Vermelho

Entre mim e a minha casa, uma estação de metrô. Decido andar e, mesmo sem decidir, observar. Pouco mais de meio-dia, vejo um sujeito de vermelho sentado à mesa do bar posta na calçada. A mesa tem a cor de sua camisa, do São Paulo, do boné do mesmo time largado sobre ela e de suas bochechas, inchadas. Ao lado do boné, um copo de Coca-Cola, diluído demais para ser só refrigerante. O Homem Vermelho vira de lado e cospe, cuspe viscoso, batizado, demorado, um cuspe que não quer abandoná-lo. Passos adiante, um pai dá um sermão na filha. Entediada, ela olha para a frente. Seu olhar perdido encontra o cuspe inacabável do Homem Vermelho, retido nele pelo tempo da bronca do pai, também sem fim. Já em casa, tenho certeza, os três ainda estão lá: o Pai, a Filha e o Homem Vermelho.

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