quarta-feira, 26 de julho de 2017
Fantasia
Ao passar em frente a uma tradicional loja de fantasias na região do Paraíso, vi outro negócio ocupando o antigo endereço daquele. Agora fica ao lado, num imóvel bem menor. Andando mais um pouco, presenciei a guarda civil desalojando moradores de rua instalados numa praça. A fantasia, de fato, tem cada vez menos espaço.
terça-feira, 25 de julho de 2017
Dívida
Obra do artista que eu gostaria de ser: Raymond Pettibon |
Este mês, meu blog, Anotações Mentais, completa uma década. Quando me
dei conta da aproximação do aniversário, planejei escrever a respeito. A
intenção era publicar alguma coisa nos dez anos do meu primeiro post – 13/07 –,
mas a data passou. (Honestamente, só soube que o dia era aquele quando lembrei
de procurar, ontem.) Antes que também julho acabe, resolvi que de hoje não
passaria.
Só pouco antes de começar o texto é que lembrei: hoje, dia 25, é o Dia
do Escritor. Na verdade, não fui bem eu que lembrei. O serviço foi feito pelas
"memórias" do Facebook, que recuperaram mensagens mandadas por
leitores em anos anteriores, me parabenizando. Se a data (não muito) comemorada
hoje resgata meu objetivo ao começar este blog, essas mensagens indicam que ele
foi alcançado. Em 2007, eu queria ser escritor. Em 2017, eu sou.
Claro, antes de inaugurar este espaço, eu já escrevia – em outros blogs compartilhados com amigos e
lidos por poucos e, ainda antes, em cadernos não compartilhados e não lidos por
ninguém. Com o Anotações, no entanto, eu me propunha a fazer isso com mais regularidade
e, consequente e esperançosamente, melhor.
Naqueles tempos, eu havia acabado de me mudar para Portugal, aceitando o
convite de um grande amigo para tentar a sorte no mercado publicitário do país,
onde ele (Fábio) já morava. Recém-chegado a Lisboa, ainda sem emprego, aproveitei
o tempo entre as entrevistas e as caminhadas pela cidade para registrar minhas
primeiras impressões sobre... bem, o primeiro post foi exatamente sobre nada.
Os próximos tratavam do meu contato inicial com a capital portuguesa e de
coisas que passavam pela minha cabeça enquanto andava por suas ruas de paralelepípedos.
Eu me forçava a escrever diariamente, ainda que não soubesse muito bem a
respeito de quê. Sem muito objetivo, como fazem os corredores amadores que, sem
uma prova no horizonte, correm apenas para se manter correndo. A prática, que deixa
esses atletas mais magros e mais rápidos, fez o mesmo com meus textos. Passando
pelas crônicas, contos e resenhas postados ao longo desses anos, percebo que deixei
pelo caminho muitos dos excessos e maneirismos – mas ainda não consegui me
livrar das metáforas, como a deste parágrafo. Mas isso, acho, é o que chamam de
estilo.
Me propus a, até o fim da minha passagem por Portugal, ter textos em
número suficiente para oferecer a alguma editora na forma coletânea. Para me
manter motivado a correr, estabeleci que essa seria minha prova.
Meu segundo endereço em Lisboa prometia
ser um cenário inspirador para essa produção. Ao me ajudar com a mudança da sua
casa para o quarto no velho apartamento em Penha de França, o Fábio sentenciou:
“Mano, você vai levar uma vida de escritor”. O que de fato aconteceu, mas
apenas em parte. Na prática, tive apenas a parte ruim do life style: pouca
grana e pouco conforto. No período em que morei ali, escrevi quase nada. Antes
usando o computador do Fábio, agora tinha um apenas na agência em que freelava,
e lá não me sobrava muito tempo.
Acabei desistindo da coletânea de crônicas. Me pareceu um tanto
improvável que alguém se interessasse por lançar os maiores sucessos de uma
banda sem um disco sequer. Mas continuei
correndo – já abandonei a metáfora da banda e voltei à da corrida –, mesmo sem
nenhuma prova em vista, só pelo prazer do exercício. Entre essas corridas diárias,
já de volta ao Brasil, finalmente encontrei a tal prova.
Motivado pelo fim do meu namoro, escrevi o conto “Quem Vai Ficar Com
Morrissey?”. Os elogios de quem leu me deram a ideia de dar mais páginas à
história e, alguns anos depois, uma editora resolveu lançar este, que seria o
meu primeiro disco – como o livro trata de música, achei justo retomar a
metáfora da banda. Com minha estreia literária, conquistei alguns leitores e o
direito de me dizer escritor sem me julgar pretensioso demais. Só um pouco.
Apesar de a atividade no Anotações Mentais ter-se reduzido bastante nos
anos em que trabalhei no meu romance, mantive o blog, mesmo que de forma
bissexta e com qualidade oscilante. O que continuei fazendo quando, pouco antes
de publicar “QVFCM?”, comecei a escrever “Olho Roxo”. Agora mesmo, enquanto
escrevo meu terceiro livro – iniciado mesmo sem eu ter conseguido editora para o
segundo – não desisto do blog.
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