Peter Parker ouvindo o conselho do tio: a ficha só caiu depois. |
O Tito é jovem. Como todo jovem
deveria ser, é idealista. Acha que pode mudar o mundo. Ou, pelo menos, o voto
dos seus amigos – como hoje chamamos centenas de pessoas que mal (e muita vezes
nem) conhecemos, mas cujas fotos, palavras e intimidades aparecem nas nossas
telas por força das redes sociais. O Tito, esse sonhador, quer um país mais
justo, mais igual. Por acreditar que o atual governo tem feito um bom trabalho
nesse sentido, ele “faz campanha” pela reeleição da presidente Dilma,
divulgando vídeos e textos dos avanços alcançados pela sua administração.
Tenta, também, manter um diálogo educado e razoável com todos os “amigos” que
comentam seus posts, a maioria o recriminando por sua escolha eleitoral. Nem
sempre consegue – sabe como é, o Tito mora em São Paulo, e por estas bandas
você recebe melhor tratamento se assumir publicamente ser pedófilo.
Eu, como um entre as centenas de
“amigos” do Tito, acompanho essa troca de mensagens públicas – ao evoluir para
discussões, ele tem o bom senso de avisar os interlocutores que prefere
transferi-las para o campo inbox. Mas, como um amigo sem aspas do Tito, me
preocupo com a hostilidade de que ele tem sido alvo e, portanto, tento
dissuadi-lo do debate nas redes sociais. Como já tinha feito antes – quando ele
se posicionou de modo favorável aos “rolezinhos” e chegou a ser ameaçado –, o
aconselhei a, sempre que quiser expor suas ideias sobre assuntos polêmicos,
chamar amigos a uma mesa de bar. Entre pessoas que se respeitam e respeitam
opiniões diferentes das suas, as chances de receber uma ameaça de morte são
nulas. Já nas redes, que se têm mostrado (com o perdão do trocadilho) bastante
antissociais, as chances de perder “amizades” são grandes – e graças à
crescente dificuldade de se interpretar sutilezas e ironias, até mesmo amizades
sem aspas. Terminei minha última mensagem ao meu primo (sim, esse rapaz é meu
primo, o considero um irmão mais novo) dizendo a ele que, embora também tivesse
minhas convicções, preferia dividi-las no off-line, pelos motivos que já disse,
e reforcei minha preocupação com ele. Do outro lado, resposta nenhuma. Um
silêncio que me fez refletir.
O ódio que pauta a troca de opiniões
na atual eleição, evidentemente, não é privilégio exclusivo do meu primo. É um
assunto comum em qualquer roda de conversa – on e off-line – e, por isso mesmo,
faz muitas pessoas nascidas em tempos pré-internet (meu caso) afastarem-se do
debate na redes. Afinal, não sou pago para defender ninguém e, portanto, nada
ganho se for ofendido e (ou) ameaçado, penso eu. Ou, melhor, pensava.
Refletindo sobre isso, me dei conta do quão velha é esta posição. As redes
amplificaram enormemente o poder individual de difundir informação/opinião, e
isso não pode ser ignorado. Fazê-lo seria o mesmo que fez o jovem Peter Parker,
já picado pela aranha radiativa, ao deixar passar o criminoso que viria a
assassinar seu tio. Mas, como lembrou esse mesmo senhor ao
sobrinho antes disso: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Antes de sair
escrevendo ou repassando qualquer coisa, melhor ponderar bem, verificar a
procedência e a veracidade da informação – afinal, se nos tornamos todos
veículos, devemos adotar a mesma responsabilidade que exigimos dos tradicionais.
Dito isso, concluo que não há problema em expressar um ponto de vista. Desde
que seja de forma educada, com o tom adequado, com o respeito que jornais e
revistas devem ter aos seus leitores – que, no caso da rede, são todos os
“amigos” que recebem nossas atualizações. Você tem, claro, o direito de se
isentar – como até agora eu fiz – mas, optando por isso, você também abre mão daquele
outro direito. O que me deixa feliz é ver que, além do Tito, há outras pessoas
ponderadas (mais velhas do que ele e até mais velhas do que eu) expressando seu
voto. Em alguns casos, o voto é outro, mas a sensatez é a mesma que pretendo
ter imprimido a este texto – que dificilmente será lido por inteiro, eu sei.
Voto na Dilma, como vota o meu primo.
Se quiser comentar, por favor, use de educação.
E, por favor, não leve para o lado pessoal. Continuo não recebendo
nenhum dinheiro para ser ofendido e (ou) ameaçado.
PS: Não sou pedófilo, amigos.