Lutava contra a extinção da civilidade porque dessa espécie dependia outra, consequentemente também em perigo: minha própria sanidade. No meu ecossistema – mais parecido com o quintal dos fundos de uma casa de periferia –, é como se uma fosse a frágil e esfarrapada corda que mantinha a outra, raivosa vira-lata mestiça de fila brasileiro, presa a uma árvore. Sem nunca deixar de espumar, a sanidade rosnava, como a dizer que, se a civilidade a mantinha presa, era simplesmente porque ela concordava em ficar assim. Até chegar o dia em que o fiapo de corda não foi capaz de segurar o cão.
No andar do meu trabalho, o elevador se abriu e tentei fazer o mesmo à minha cara fechada.
“Bom-dia” para as primeiras pessoas que encontrei. Para a moça da limpeza, que
cumprimentou de volta, sorridente. Para o cara que nem sabia quem era ou o que fazia. Sem se dar ao trabalho de erguer os olhos do celular, respondeu: “E aí?”
- “E aí” o
quê, porra?
- Oi?
- “Oi” é o
caralho! Te dei “bom-dia” e você responde “e aí?”
- Eu, hein?
Dá licença...
- “Dá
licença” o seu cu, babaca. Você sabe o quanto me custa olhar prum bosta como
você e dar “bom-dia”? Ainda mais já sabendo que a resposta vai ser essa porra
de “e aí”?
- Então, por
que você dá “bom-dia”?
- Por causa
do vira-lata mestiço de fila brasileiro e da corda esfarrapada...
- Mano, cê é
maluco...
Foi
exatamente o que o meu advogado alegou no recurso.