terça-feira, 23 de setembro de 2008

Não requer prática



Morar sozinho é bacana. O problema é que, mesmo sem ser convidada, a fome aparece para dividir o apartamento com você. Mas, além de não ajudar nas contas, ela ainda as aumenta. Você gasta uma grana no supermercado e só compra bobagem. Agora, sem a mãe para pegar no pé pra você se alimentar de forma saudável, latas de cerveja, refrigerante e salgadinhos pulam no carrinho para fazer companhia às bolachas recheadas e aos chocolates. Não por coincidência, só coisas que não precisam fazer escala no fogão antes de ir para a sua pança. Pança, aliás, que tende a aumentar muito se você continuar comendo desse jeito, camarada.

O que talvez você não saiba, e eu também não sabia, é que não é necessário saber cozinhar para fazer um rango minimamente light. Não me refiro a coisas sem sabor, como a maioria das que levam esse rótulo, nem a sanduíches – isso, eu suponho, você sabe fazer. A receita a seguir foi inventada e executada por mim agora, quando cheguei faminto e não queria comer chocolate ou as salsichas ao vinagrete – duas dessas coisas que compramos por que a fome manda e a mãe não está por perto para impedir.

Na última vez que fomos ao supermercado, minha namorada, grande talento na arte de morar sozinha e sem a mesma aptidão para a cozinha, aconselhou: “Compra uma lata de milho verde e uma de ervilha. É sempre bom ter em casa...” Por isso, divido com ela os créditos dessa iguaria. Com ela e com minha inexperiência – além daquelas ao vinagrete, comprei salsichas de peru acreditando que tivessem o mesmo gosto do “peito de”, mas descobri que, se as calorias são quase zero, o gosto também é.

Assim se fez a receita: latas de conserva e um embutido absolutamente sem gosto, misturados à margarina light (claro, o sabor também não é o mesmo), levados ao microondas por dois minutos. Tirei do forno com os dedos cruzados. E não é que ficou bem aceitável? Não, nada como as delicias da Dona Mercês, mas bem aceitável. Só não é melhor porque, depois, vou ter que lavar a louça. (Se bem que, em dois dias, a Lu aparece para dar um trato na bagunça...)

PS: A foto é meramente ilustrativa. A ervilha e o milho que comprei vieram em embalagens separadas. Acredite ou não, eu consegui misturar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LP


Um emblemático álbum da banda de sucesso dos anos 80 estampava minha camisa. O moleque percebeu.

- Pô, curto esse disco pra caramba. “Boys Don’t Cry” é da pesada.

O disco da minha camisa era “Meat Is Murder”, dos Smiths, não “Standing On A Beach”, do Cure.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Três letras

No trânsito, seguia a orientação das placas. Mas, para ele, as que indicavam o caminho eram as dos carros. Nas três letras que, ao lado dos números, identificavam os veículos, identificava os desígnios divinos.

Ouviu da chapa CAS: devia comprar uma casa. Depois, as mesmas letras lhe disseram: case. Pensou no ditado e percebeu a relação entre as ordens. Logo em seguida, a chapa o aconselhou a ter um caso. Continuou a achar lógico – para se ter um caso, é preciso estar casado, do contrário, é relação lícita, indigna do rótulo. Orientado por DIE, ia se matar, mas, em seguida, aconselhado por CVV, desistiu. COR lhe disse para pegar uma na praia. Ou será que era para pintar a casa? Na dúvida, fez os dois.

Não contestava a sabedoria das placas, muito mais personalizadas e assertivas que qualquer horóscopo. Nada fazia sem consultá-las. Só foi procurar ajuda médica quando ouviu delas o diagnóstico: TOC.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Em claro

Quando se preparava para dormir o sono dos justos, lembrou-se de ter colocado no subalterno a culpa por um erro que cometera.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Resolução

Decidiu: viveria cada dia como se fosse o último. No primeiro, pediu demissão, saiu de casa, sacou todas as economias e gastou com prostitutas, bebidas e festas. No segundo, sem emprego, sem mulher e sem dinheiro, torceu por um ataque cardíaco fulminante.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

No banco, eu

Como todo brasileiro, penso que sou técnico de futebol. Mas nunca me senti tão capaz de exercer o oficio como esta semana.

Deitado à beira da piscina de uma pousada litorânea, olho para o lado e identifico uma figura familiar. Um sujeito de feições ordinárias, que devem ter passado despercebidas pela maioria dos outros hóspedes. Tratava-se de Mano Menezes, “professor” do Corinthians. Foi quando percebi nosso talento comum: tomo sol tão bem quanto ele. Quer dizer, acho que até melhor. Sim, definitivamente tomo sol melhor que o Mano Menezes.

Agora, só falta algum clube apostar em mim. O time pode até ser rebaixado, mas eu garanto: sempre estarei bronzeado

quarta-feira, 3 de setembro de 2008